Uma declaração de amor ao campeão brasileiro

Em 22 anos, a luta sempre foi nossa.

Esperamos 22 anos por isso. Para viver e reviver, porque já bastava de sonhar.

Eu e o Palmeiras nascemos um para o outro, a ponto de dividir o mesmo mês de aniversário. Desde as raízes, a luta nos aguardava em campo e fora dele. Sócios e jogadores abandonando a agremiação para lutar pelo seu país de origem, a negação brasileira em ter um time italiano, a defesa pelo nosso maior patrimônio e eu brigando para ir ao estádio sozinha. Nós sabemos o valor de uma casa.

Morrer para nascer ainda mais forte é a nossa essência. Não à toa nos chamamos sociedade. Sempre fomos um grupo de pessoas unido por um amor muito maior do que todos nós. O que são anos de fila para quem vive de Palmeiras?

1994 vinha no embalo do ano anterior e o time imbatível do bi brindava o meu nascimento com o heptacampeonato. Ao longo dos anos eu perceberia que, com o fim da década de 90, teríamos alma e paciência como características comuns. Porque palmeirense não abandona a luta, ele vive dela. Em anos difíceis de derrota, ver o Palmeiras no estádio, com a mesma frequência de hoje, era uma guerra que não dependia de mim.

Porque era perigoso.

E eu era menina, diziam. Não tinha como discordar.

Além de pouca idade, o ambiente majoritariamente masculino nunca foi favorável aos meus argumentos. Por isso, eu e o Palmeiras só nos encontrávamos quando alguém me acompanhava. Meu time sofria em campo. Eu sofria fora dele.

Ao longo desses anos, transformamos toda a lealdade de uma vida em padrão. Padrão que sempre jogará apenas para um lado: o Palestra. E, hoje, não comemoro o título brasileiro conquistado pelo maior campeão nacional, eu comemoro, mais um dia, a existência do clube que me deu motivos para viver feliz meus 22 anos. Como torcedora assídua de estádio e mulher.

Cheguei de vez ao lugar que eu sempre deveria estar: a arquibancada. E o Palmeiras volta, finalmente, para onde ele nunca devia ter saído: o topo.

Para toda arrancada heroica e liberdade de torcida existirá uma resistência. Essa é mais uma vitória. Minha e do Palmeiras.

22 anos depois somos campeões e, agora, eu não preciso de mais ninguém me dando a mão para ir ao estádio, porque eu vou aos jogos sozinha. Não existe motivo para ficar em casa se a rua também sempre foi minha.

Vamos comemorar!