A decisão do PSDB de permanecer no governo Michel Temer fortalece o presidente em sua batalha para chegar ao fim do mandato, mas pode custar caro aos tucanos na eleição de 2018, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Em reunião nesta segunda-feira, o PSDB anunciou que continuará a integrar o governo e a apoiar as reformas defendidas por Temer, contrapondo-se a congressistas da sigla que defendiam uma ruptura. A decisão ocorre três dias após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolver a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer de acusações de irregularidades na campanha de 2014.
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Uma ala de congressistas jovens do partido, apelidada de “cabeças pretas”, defende o defecção, avaliando que a permanência seria ruim para a imagem do PSDB e prejudicaria a sigla nas eleições de 2018.
O temor é que o desgaste do presidente acabe contaminando os tucanos e fragilizando o discurso anticorrupção entoado por congressistas do partido.
Mas vários caciques tucanos – entre os quais o governador Geraldo Alckmin (SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – adotam tom mais cauteloso. Eles dizem que um desembarque poderia prejudicar o país, dificultando a aprovação das reformas encampadas por Temer e gerando mais turbulência num momento em que a economia ainda está bastante fragilizada.
O PSDB tem a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, com 46 dos 513 deputados, e a segunda maior do Senado, com 11 dos 81 senadores.
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Se o partido deixasse o governo, Praça diz que alguns deputados poderiam se sentir livres para votar a favor de um eventual pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que Temer seja processado com base nas delações da JBS.
Para que Temer seja denunciado, são necessários os votos de ao menos 342 dos 513 deputados. Há relatos de que Janot apresentará o pedido nos próximos dias.
Ativos eleitorais
Para Praça, ao decidir permanecer no governo, o PSDB deve ter levado em conta os prejuízos de perder os ministérios que atualmente comanda.
O PSDB chefia os ministérios das Cidades, Relações Exteriores, Secretaria de Governo e Direitos Humanos. Segundo o professor, Cidades e Relações Exteriores são pastas com prestígio, e chefiar a primeira é vantajoso para qualquer partido, já que ela é responsável por vultosos gastos com obras públicas Brasil afora. A importância da pasta cresce ainda mais em vésperas de eleição, diz Praça.
Mas o cientista político lembra que o próprio ministro das Cidades, Bruno Araújo, endossou o movimento pela saída do PSDB do governo.
“Daí se vê como é difícil o cálculo deles entre ficar ou sair do governo.”
Futuro de Aécio
O envolvimento do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, na delação da JBS complicou ainda mais a decisão.
Afastado do Senado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após gravações em que tratou de formas de frear a Operação Lava Jato, Aécio ainda não foi formalmente desligado do cargo – algo que depende dos próprios senadores.
O procurador-geral da República solicitou ao STF a prisão de Aécio, mas teve o pedido negado.