A Marcha das Margaridas preza pelo fortalecimento da democracia e de grandes reformas que o país precisa, destacou Alberto Ercílio Broch, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), ao JB, sobre a realização da marcha em um momento de crise política. A Contag organiza a Marcha das Margaridas, que teve a cerimônia de abertura de sua quinta edição na noite desta terça-feira (11), com a presença do ex-presidente Lula e de ministros, entre eles Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência. Nesta quarta (12), vai ocorrer a marcha com a presença de mais de 70 mil camponesas e o encontro das coordenadoras com a presidente Dilma Rousseff.
Com reivindicações como o enfrentamento à violência contra as mulheres, políticas públicas para mulheres do campo, autonomia econômica e defesa da agroecologia, além da preservação da cultura das camponesas, as mulheres do campo sairão às 7h do Estádio Mané Garrincha em direção ao Congresso Nacional e, às 15h, as coordenadoras devem se reunir com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. De acordo com Broch, todos os presidentes, desde que começou o ato, em 2000, participaram do evento. “Temos a expectativa que ela venha ao encontro e faça compromissos com a pauta das mulheres.”
“Essa é uma marcha muito grande. Dos quase cinco mil municípios do país, não tem um município em que alguém, neste município, não esteja mobilizado nesta marcha. São centenas e centenas de lideranças, mulheres e homens, nessa preparação de dois anos, vindo nessa grande manifestação por direitos, por igualdade, contra a discriminação das mulheres, por mais democracia, por políticas públicas que venham a contemplar ainda as grandes necessidades do campo, das águas e das florestas”, explicou Broch ao JB.
Broch comentou que sempre existiu o esforço de diálogo do governo com os movimentos de esquerda, e que agora teve início uma fase nova. De acordo com ele, essa relação com a Marcha das Margaridas teve início no governo Fernando Henrique Cardoso, mas se consolidou durante os governos do presidente Lula e da presidente Dilma.
“Isso não foi só com os movimentos sociais, basta ver as conferências, basta ver os espaços de conselhos que se criaram, muito coisa que, inclusive a nossa grande luta era para institucionalizar. Independente dos governos, esses espaços devem permanecer na sociedade brasileira como uma conquista. Nós preservamos esses espaços de diálogo”, disse. “Isso não significa dizer que a gente perde a autonomia nem o governo perde o direito de ser governo, e nem com isso nós deixamos de fazer manifestações que nós achamos necessárias.”
Para Broch, o Brasil passa por uma crise política enorme, com consequências que acentuam a crise econômica, “o que é bastante mais grave”, os trabalhadores são sempre oa mais afetados. Sobre o embate entre Câmara dos Deputados e Planalto, ele alerta que é importante que não se regrida em relação à democracia e a conquistas. “Nós vamos continuar prezando pelo fortalecimento da democracia e pelo fortalecimento das grandes reformas que o Brasil precisa, uma reforma agrária, reforma tributária e uma reforma política. Nós vamos continuar com essas pautas e acompanhando esse desenrolar, especialmente da Câmara dos Deputados.”
Broch aproveitou para destacar que a grande marcha desta quarta-feira (11) nada tem a ver com um movimento pró-impeachment. “Nós não estamos envolvidos nesse movimento, nós achamos que impeachment não é a pauta nesse momento para os trabalhadores. Nós temos um grande evento, que é a Marcha das Margaridas, que nós começamos a preparar há dois anos, não é uma coisa de agora, coincidiu a marcha com essa crise política, mas ela sempre acontece na semana que em nós lembramos o assassinato de Margarida Maria Alves.”
A Marcha das Margaridas ocorre desde 2000 em homenagem a Margarida Maria Alves, sindicalista e defensora dos direitos humanos, assassinada por latifundiários no dia 12 de agosto de 1983. “É uma data muito simbólica para nós, por isso esta grande marcha.”