Falta d´água constante revolta moradores do Jd. Aracy, em Mogi

Enquanto muitos temem pela estiagem e o possível racionamento de água, em Mogi das Cruzes, por conta da crise do abastecimento em São Paulo, alguns moradores do Jardim Aracy denunciam que já estão vivendo um clima de seca no bairro.

Rudnei Aparecido Medeiros é um deles. Ele, inclusive, montou uma planilha para controlar os dias e o horário que o serviço foi interrompido. Segundo ele, entre os dias 14 e 27 de agosto, somente em dois dias, a água saiu da torneira sem interrupções. “Isso acontece quase que diariamente e nós não somos avisados. No dia 22 cortou o abastecimento às 13h e foi voltar só dia 24, às 10h40”, relembra.

Para se adequar, o morador da Rua Anita Mafalti, no Jardim Aracy estoca água em casa, pois não possui caixa d´água para armazenamento. “Fica muito complicado essa situação. Esses dias estávamos lavando roupa aqui em casa e a água acabou”.

A falta de água está prejudicando até mesmo o lucro de Maria José Nicola. A comerciante possui uma lanchonete e conta que já precisou fechar as portas do seu estabelecimento por falta de água. “Não tenho como servir os clientes com copo sujo. Eu tenho que dispensar os clientes porque a chapa onde faço lanches fica suja. Eu tenho até medo da Vigilância Sanitária multar o meu estabelecimento, então não arrisco”.

Quando o abastecimento é interrompido por poucas horas, Maria José improvisa para lavar os utensílios com água de galão. “Quando percebo que vamos ficar sem água, encho dois baldes para tomar água. Para lavar as verduras dos lanches, eu compro água de galão. Semana passada eu usei cinco galões e cada um custa em média R$ 7. Sem contar que os utensílios de cozinha não dá para lavar com água de galão, tem que ser na pia”.

Na última ligação que fez ao Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae), Ana Rosa Paiva conta que ouviu da atendente que as bombas de fornecimento estavam sendo fechadas por conta de racionamento. “Da última vez que liguei me disseram que estavam interrompendo o funcionamento da bomba por ordens superiores. Eles tinham dado o prazo de que a água voltaria no mesmo dia até as 18h, mas foi voltar às 10h no dia seguinte”.

A estudante que reside na Rua Cândido Portinari afirma que até os funcionários da autarquia confirmam a medida. “Meu marido encontrou com os funcionários do Semae trabalhando próximo a bomba e perguntou se eles estavam consertando. Eles disseram que estavam fechando o registro que abastece o nosso bairro”, detalha. Domingos Guilherme dos Reis precisou comprar uma caixa d´água maior para suprir as necessidades da família. A esposa do aposentado sofreu uma parada cardiorrespiratória e vive acamada. “No meu caso, eu uso muita água aqui em casa. Tive que comprar uma caixa de mil litros já que todo o dia tenho que trocar e lavar a roupa de cama da minha esposa”.

Mesmo com o aumento do reservatório, a rotina da família é prejudicada pela falta de água. “Quando ficamos dois dias sem água, a gente entrou em desespero. Não pude nem dar banho na minha mulher. O banho foi lencinho umedecido”, conta.

Para tentar economizar um pouco, seu Domingos utiliza um lençol de plástico almofadado na cama de sua esposa. A mulher ainda utiliza fraldas geriátricas, mas “isso gera um custo, né”, afirma.

Justificativa
Procurado para esclarecer sobre a situação no Jardim Aracy, o Semae respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que não há racionamento do bairro.

“Nas últimas duas semanas, o Semae identificou e reparou nove vazamentos que atingiam a rede de distribuição do Jardim Aracy. O trabalho foi feito após registros de queda de pressão no fornecimento de água. Neste período, a autarquia enviou água do sistema Itapety, localizado nas proximidades, com o objetivo de aumentar o volume de água aos moradores. Nesta sexta-feira (5), os técnicos da autarquia farão um teste final no sistema, que já opera normalmente”, diz a nota.

Contas
Além da queixa pelas interrupções no abastecimento de água no Jardim Aracy, em Mogi das Cruzes, outra reclamação constante de quem vive ou trabalha por lá é a diferenciação nos valores das contas de água. De acordo com os moradores, o valor correspondente ao período que ficaram sem o abastecimento não é abatido na conta de água.

“Eu fiquei 23h sem água e a minha conta veio num valor maior do que o normal. Eu reclamei mas não resolveu. Antes o problema era o ar na tubulação, agora dizem que é a bomba. Se colocassem um produto de qualidade, não dava tanto defeito”, contesta a comerciante Maria José.

“O valor da minha conta está subindo. Antes eu pagava por volta de R$ 50. Hoje a minha conta vem entre R$ 60 e R$ 70. Se eu não tenho o serviço, por que estou pagando mais caro ainda?”, conta Ana Rosa.

Faixas de consumo
Sobre a denúncia dos moradores, o Semae explica que as contas seguem faixa de consumo e exemplifica os valores e que descontos só podem ser oferecidos em casos onde fica comprovado a existência de vazamento.

“Sobre os valores das contas, o Semae informa que elas seguem faixas de consumo. A primeira faixa de consumo, por exemplo, vai até 10 mil litros de água por mês e tem custo de R$ 24,20 mensais. Apenas como comparação, esta faixa é 39% mais barata que a mesma faixa da Sabesp. As famílias que gastam, por exemplo, 3 mil ou 5 mil litros de água por mês, pagarão o mesmo valor desde que a conta final não ultrapasse os 10 mil litros mensais.”