Escola pública de Caçapava promove cidadania a crianças sem-teto

Na segunda quinzena de maio, seis crianças com idades entre 7 e 9 anos, de uma mesma família ex-moradora do Pinheirinho (área da zona sul de São José dos Campos invadida por sem-teto em 2004 e desocupada em 2012) foram matriculadas na escola de ensino fundamental Doutor Raif Mafuz no bairro da Santa Luzia, em Caçapava. Dos seis novos alunos, dois (um de 7 e outro de 9 anos) nunca tinham frequentado os bancos escolares.
As matrículas foram solicitadas pela avó das crianças que, mesmo sem nenhuma instrução escolar, mostrou-se preocupada com o futuro dos netos.
“Estou adorando a escola”, afirmou o mais velho. Os primeiros passos dados pelos dois irmãos órfãos no caminho da cidadania permitiram que eles aprendessem a segurar, corretamente, um lápis dentro de uma sala de aula em Caçapava.
Segundo a diretora da escola Doutor Raif Mafuz, Júlia Francisca Garcia dos Santos, os novos alunos estão sendo acolhidos da melhor forma possível pela direção, professores e alunos e estão sendo acompanhados por orientadores pedagógicos. A integração está sendo total entre os recém-chegados e a comunidade escolar. “Não sabia que estudar era tão bom”, disse um deles. A diretora afirmou que eles estão cada vez mais entrosados com os outros estudantes e se integrando, de forma rápida, à vida social/escolar.
Para o secretário de educação de Caçapava, Sidnei Sanita, mesmo cumprindo a obrigação constitucional, não deixa de ser motivo de orgulho uma escola da cidade abrir as portas às crianças nesta situação. “O exercício da cidadania só se completa quando a pessoa tem conhecimento e ao mesmo tempo conscientização dos seus direitos e deveres. Cabe à toda sociedade, principalmente ao poder público, a promoção de esforços coletivos para contemplar o indivíduo”, disse.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o prefeito de Caçapava, Henrique Rinco (PSDB), afirma que a educação é um dos principais instrumentos na formação do cidadão, mas essa formação só pode ser totalmente solidificada com a participação de todos segmentos da sociedade. “O papel do poder público é importante, porque é dever do governante garantir a todas crianças o direito fundamental de acesso à educação”, afirma.
Segundo Rinco, “apesar de ser indispensável na formação da cidadania, a escola pública sozinha não vai conseguir o resultado esperado, uma vez que a conscientização do indivíduo ultrapassa o ambiente escolar e sem a organização e a colaboração de outros segmentos da sociedade, como a família, por exemplo, não será possível formar os futuros cidadãos”.
Inclusão – O exemplo de que o governo municipal tem que fazer a sua parte para que as leis (das três esferas governamentais) deixem de ser letras frias e se transformem em ferramentas que permitam o pleno exercício da cidadania está acontecendo na escola Doutor Raif Mafuz.
A vontade política no cumprimento das leis por parte do governante da cidade transforma o município, base da vida política do país, num dos principais atores do Estado Federal na formação da cidadania, que deve ser incentivada nos primeiros anos da escola pública, uma das responsabilidades constitucionais dos municípios.