A sessão da CPI da Petrobras desta quinta-feira (12), que ouviu depoimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se transformou em ato de desagravo ao peemedebista. Em vez de ser questionado pelos integrantes da comissão sobre as suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção que atuava na Petrobras, o deputado do Rio recebeu aplausos e elogios, tanto da oposição quanto da base aliada.
Cunha falou livremente por uma hora e atacou duramente o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chamando os inquéritos abertos contra 47 políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção de “piada”, “escolha política” e tentativa de transferir a “crise” do Palácio do Planalto para o Congresso Nacional.
Em meio à sessão, o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), lamentou o desgaste sofrido pelo Legislativo com a inclusão do nome do peemedebista na lista de investigados e disse acreditar que vários parlamentares citados na Operação Lava Jato são “inocentes”.
“Do ponto de vista político, a inclusão do nome acaba implicando num julgamento. Tenho consciência de que muitos dos que estão relacionados são inocentes e irão provar isso”, ressaltou o petista.
O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), também saiu em defesa de Eduardo Cunha . Ele disse não ver motivo para o inquérito.
“O que esta Casa tem em mãos não nos leva a ver nenhuma razão para ver esse nome [de Cunha] citado. Por que essa seleção maldosa de ficar pinçando nomes? Um nome uma vez citado não consegue mais a mesma referência. É um modo altamente prejudicial para a disputa política”, declarou o líder do PT.
Na mesma linha, o líder do PR, Maurício Quintella Lessa (AL), afirmou que seu partido tem “total” confiança no presidente da Câmara. “Queria parabenizar o presidente da Casa pelo desprendimento, espírito público e por conta própria ter se prontificado a prestar esclarecimentos à Casa e à nação. Vossa excelência tem, do PR, total confiança”, comentou Lessa.
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) também prestou solidariedade ao presidente da Câmara dizendo que ele é alvo de uma “tentativa espúria de forjar algo para incriminar alguém”.“[A abertura de inquérito contra Cunha] é para tentar atingir esta Casa, mas não irão atingir em hipótese alguma”, criticou. “O senhor vem aqui mostrar qual é a jogada que está por trás disso”, complementou o parlamentar do PTB.
Até mesmo a oposição usou tom ameno para tratar das suspeitas contra Eduardo Cunha. O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), ressaltou que a criação da CPI da Petrobras teve o apoio do presidente da Câmara.
“Se, por ventura, [Cunha] tinha algo a esconder, evidentemente que ele não seria uma pessoa que atuaria para que pudesse avançar a CPI mista no passado, a atual e a própria constituição de uma comissão externa para apurar os desvios da SBM Offshore”, observou Mendonça Filho.
Líder da Minoria, o tucano Bruno Araújo (PSDB-PE) afirmou que tinha “plena convicção” da autoridade de Cunha no comando da Câmara. “Você é mais presidente hoje do que as vésperas [da divulgação] dessa lista. A qualidade do conteúdo e a firmeza de suas posições dão aos partidos e aos parlamentares a tranquilidade e a sinalização ao país da plena estabilidade nesse processo”, opinou o tucano.
O líder do PSC, André Moura (SE), classificou os indícios contra Cunha de “frágeis” e disse que o presidente da Câmara foi “escolhido para ser investigado”. “É uma tentativa clara de intimidá-lo por conta da sua atuação à frente da Câmara, pautando matérias que não são de interesse do Planalto”.
O deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA) foi além e disse a Cunha que “não restou nada a ser esclarecido” por parte do presidente da Câmara. “O senhor sai maior do que entrou”, declarou.
Adversário de Cunha na eleição pela presidência da Câmara, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também cumprimentou o peemedebista pela iniciativa de comparecer à comissão. Delgado, no entanto, ponderou que será preciso “separar o joio do trigo”. “Eu acho que o senhor não tem nenhum envolvimento nesse esquema”, disse, dando ênfase na palavra “acho”.
O deputado do PSB lamentou que o caso tenha atingido o Legislativo, mas observou que não se tratava de transferir a crise do Planalto para o outro lado da rua. “Infelizmente, essa crise chegou no parlamento, ela está no parlamento. […] O PMDB também está do outro lado da praça dos Três Poderes [com ministros do partido]”, afirmou. Após as manifestações de solidariedade dos colegas, Eduardo Cunha agradeceu “o carinho”.