A presença do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, será a grande atração e a grande polêmica no Congresso da Fundação Ulisses Guimarães, ligada ao PMDB, que será realizado nesta terça-feira (17). Não haverá espaço para a discussão sobre o rompimento do partido com o governo, como vem defendendo Cunha nos últimos quatro meses, mas ele estará lá e avisa que vai falar. “Minha posição não mudou nada”, disse ontem. A cúpula do partido preferia que ele não fosse, para evitar constrangimentos.
Há exatos 120 dias, Cunha anunciou o seu rompimento com o governo, após ter sido acusado de receber propina com recursos de um contrato com a Petrobras. Na época, ainda com muito poder, o presidente da Câmara fez acusações diretas ao governo: “Há um objetivo claro de constranger o Poder Legislativo. Pode ter o Executivo por trás em articulação com o procurador-geral da República”, disparou.
O Congresso do PMDB estava marcado para setembro, mas foi adiado pela cúpula do partido ainda em agosto. O objetivo era evitar o debate sobre o rompimento com o governo. O congresso do partido foi transformado em Congresso da Fundação Ulisses Guimarães. Em outubro, Cunha tentou se articular com diretórios regionais para impor a realização de uma convenção nacional para debate a ruptura com o governo. Mas as suas contas da Suíça foram descobertas, ele perdeu apoio político e desistiu da manobra.
Cunha demonstrou irritação nesta segunda-feira (16) ao ser questionado sobre um possível constrangimento de peemedebistas com a sua presença no encontro da fundação do partido. “Queria saber quem é o peemedebista que disse isso para eu poder responder. Eu não vou me basear por fofoca. Fui convidado e lá estarei”, afirmou. O presidente da Câmara disse que sua posição sobre a ida em definitivo do PMDB para a oposição não mudou. “Amanhã eu vou lá, provavelmente eu vou falar”, comentou.
A cúpula do partido não fala abertamente, mas troce para que Cunha não compareça e evite maiores constrangimentos aos peemedebistas. Eles temem que o presidente da Câmara seja vaiado pela militância do partido.
“Ele [Eduardo Cunha] não vai poder exercer o papel que pregou até pouco tempo”, comentou o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), ao lembrar da posição defendida pelo presidente da Câmara de que o PMDB deveria deixar a base do governo. Lúcio é um dos representantes da ala oposicionista do PMDB e acha que Cunha corre o risco ser vaiado pela militância.
Renan ausente
A grande ausência do congresso da fundação deverá ser a do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL). Na agenda oficial do presidente do Senado desta terça-feira não consta a sua participação no Congresso. Embora não tenha feito nenhum comentário formal sobre o documento “Uma Ponte Para o Futuro”, Renan não gostou do conteúdo nem da forma como o documento foi apresentado.
O documento é um dos principais pontos de debate do congresso da fundação, além da mudança no estatuto do partido. O vice-presidente Michel Temer vai defender as propostas, elaboradas pelos economistas Delfin Neto e Marcos Lisboa, apresentadas como saída para a crise econômica enfrentada pelo país.
A interlocutores próximos Renan tem criticado duramente o documento divulgado pelo PMDB. Ele disse não concordar com as propostas apresentadas no documento, especialmente as que retiram direitos trabalhistas e previdenciários.
Para o presidente do Senado, o PMDB não pode defender propostas como essas, especialmente em ano eleitoral. Durante jantar na casa do senador Raimundo Lira (PB), logo após o lançamento do documento, Renan fez críticas às propostas e chegou a concordar com a posição do senador Roberto Requião (PR), de que alguns pontos são contrários ao que o PMDB sempre defendeu.
Requião, aliás, já anunciou que pretende confrontar Michel Temer em relação as propostas apresentadas pelo documento. O senador paranaense disse que, ao contrário do que foi divulgado, não houve consulta aos parlamentares sobre as propostas apresentadas no documento.
O Congresso do PMDB deverá ter início as 9 horas, com a abertura e a composição da mesa. Logo em seguida, os grupos serão divididos em dois grupos. Na sala A, será debatido o programa de governo, “Uma Ponte para o Futuro”. Na sala B, será discutido o novo estatuto do partido.
O presidente Michel Temer deverá chegar por volta das 11 horas, para participar da plenária no auditório, e deve permanecer até o almoço, previsto para as 13 horas. À tarde, será realizada uma reunião dos presidentes da Fundação Ulysses Guimarães nos estados. O encerramento está previsto para as 19 horas.