O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, decretou nesta quinta-feira (11) Estado de Calamidade Pública por causa da chuva. O decreto foi publicado no Diário Oficial do município e garante à Prefeitura o poder de, por exemplo, executar medidas excepcionais sem autorização do Legislativo. Isso inclui a realocação de verbas e cortes de serviços para priorização em outras áreas.
Com o decreto, de validade de 180 dias, também fica autorizado o descumprimento de alguns artigos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A contratação sem licitação fica permitida para casos de situações graves.
Também no Diário Oficial do município do Rio foi publicada a liberação de R$ 40 milhões em verbas contigenciadas desde fevereiro. Este recurso, segundo o decreto, será usado em investimento de drenagem e manutenção da rede de águas pluviais da Zona Oeste da cidade, uma das regiões mais afetadas.
Chuva mais forte em 22 anos
O temporal que atingiu a capital fluminense a partir do fim da tarde de segunda (8) causou a morte de 10 pessoas. Segundo o Alerta Rio, órgão da Prefeitura, foi a chuva mais forte dos últimos 22 anos.
Houve deslizamentos de terra, ruas alagadas e carros ficaram boiando na água em bairros das zonas Sul e Oeste. O estágio de crise começou às 20h55 de segunda-feira e permanecia na manhã desta quinta, quase 60 horas depois, quando a Região Metropolitana do Rio ainda vivia os impactos do temporal e sete vias da capital permaneciam interditadas.
Dentre as vítimas do temporal, uma senhora, a neta e um taxista morreram dentro de um táxi ao serem soterrados durante um deslizamento de terra em Botafogo. No Leme, outro deslizamento causou a morte de duas irmãs que moravam em casas vizinhas no Morro da Babilônia.
A ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, caiu pela 4ª vez. Aulas chegaram a ser suspensas, e só começaram a ser retomadas na quarta-feira.
O decreto
O estado de calamidade também possibilita que a União envie equipes da Força Nacional e solicite a cooperação de regiões vizinhas. Crivella autoriza ainda, no decreto, que órgãos públicos façam requisição administrativa de propriedades particulares quando houver perigo iminente, no caso de necessidade de uso por técnicos do município ou como local de abrigo.A decisão afirma ainda que o decreto auxilia na tomada imediata de medidas emergenciais para que, em cooperação com outras esferas de governo, os problemas causados pela chuva sejam combatidos.
Demora nas ações
Na terça-feira (9), o prefeito do Rio admitiu, em entrevista à TV Globo, que houve falha de planejamento e demora nas ações durante o temporal. Segundo informações do RJ2, desde o início da sua gestão a Secretaria de Conservação tinha 200 homens prontos para entrar em ação em caso de chuva, mas só 20 homens foram às ruas na noite de segunda-feira (8), como o próprio Crivella explicou.
“Na verdade, esses homens são contratados. A prefeitura não tem esses homens próprios, nós temos seis empresas que fazem esses contratos, tanto de conservação como de drenagem, são mobilizados, no momento em que a gente precisa a gente chama e as pessoas vêm e trabalham intensamente (…) Foram mobilizados, o que atrasou foi porque houve um trânsito intenso na hora em que as pessoas estavam saindo do trabalho pra ir pra casa, e aí realmente houve atraso nos pontos principais da cidade”, disse o prefeito na terça.
Na mesma entrevista, questionado sobre a demora, o prefeito disse que o protocolo foi mudado após reunião. “O que vamos fazer a partir de agora é reunir, no exato momento em que for pra [estágio de] atenção, o prefeito e mais todos os secretários da cidade, e aí nós vamos decidir juntos em que locais vamos colocar nossas equipes.”
Defesa Civil e estado de calamidade
Em entrevista ao Bom Dia Rio desta quarta, o coronel Roberto Robadey, chefe da Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, afirmou que o decreto de situação de emergência ou estado de calamidade era condição fundamental para que outras esferas de poder pudessem ajudar no socorro às vítimas da chuva. Ele afirmou que estava à disposição da Prefeitura do Rio.
“O município do Rio de Janeiro não decretou situação de emergência e nem estado de calamidade pública porque ele consegue suportar, ou julga que consegue suportar, os efeitos dessa chuva por meios próprios”, destacou Robadey.
No mesmo dia, em entrevista concedida no Jardim Maravilha, na Zona Oeste, um dos lugares mais atingidos, o prefeito Marcelo Crivella afirmou que era preciso “olhar para frente” e negou que iria decretar estado de emergência ou calamidade.
“Hoje nós precisamos ter bom ânimo e enfrentar os problemas que não são só de agora. A última dragagem desde Rio foi feita em 96. É claro que nós temos que ter prioridades e a prioridade agora nesse momento é retomar essa dragagem, vamos dragar 2,5 quilômetros. Daqui sairão centenas de caminhões e vamos insistir com Brasília para que esse projeto seja feito como tem que ser feito”, explicou Crivella.
Foto: Daniel Castelo Branco/Agência Castelo Branco/Agência O Dia/Estadão Conteúdo