Quando a visita de Barack Obama a Buenos Aires foi anunciada no início deste ano, o novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, a apresentou como um sinal de que a nação sul americana estava a caminho de um apoio americano a seus investimentos e modernização que a ajudaria a resolver seus problemas econômicos.Mas nas semanas que precederam a chegada do presidente dos EUA, a atenção da Argentina não esteve voltada para o futuro, mas sim para um doloroso capítulo de seu passado – e questões sem resposta sobre a relação dos Estados Unidos com uma das mais repressivas ditaduras militares da história da América Latina.
O catalizador certamente foi a coincidência de datas: quinta (24) marca o 40º aniversário do golpe militar.
“A ditadura ainda é um tema muito presente” na sociedade argentina, diz Roberto Bacman, diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública, uma empresa sul americana de pesquisas. “A visita (de Obama) irá trazer alguns aspectos obscuros do passado”.Grupos prometeram protestar em Buenos Aires e Bariloche, cidade turística na qual Obama deve passar parte da quinta. Eles afirmam que durante a Guerra Fria os EUA apoiaram ditaduras, incluindo a da Argentina, e que, portanto, a presença de um líder americano é desrespeitosa às famílias dos milhares que morreram ou desapareceram.
Mesmo sem a visita, lembranças do regime militar entre 1976 e 1983 assombram o país, influenciando ideologias políticas e alimentando debates sobre o país dever ou não continuar gastando milhões de dólares todos os anos processando antigos protagonistas da guerra suja e buscando restos mortais dos desaparecidos.
Grupos de direitos humanos estimam que cerca de 30 mil pessoas morreram ou desapareceram, embora as estimativas oficiais sejam de 13 mil.
Documentos secretos
Em meio à crescente controvérsia dos últimos dias, a administração Obama surpreendeu muitos argentinos ao anunciar planos de tornar públicos documentos secretos da CIA, FBI e outros órgãos relacionados à ditadura. Grupos de direitos humanos pressionavam havia anos por essa liberação.
Em 2002, os EUA divulgaram mais de 4 mil documentos do Departamento de Estado daquele período, mas eles proporcionaram mais dúvidas do que respostas. Por exemplo, anotações de um encontro em 1976 entre o secretário de estado Henry Kissinger e o ministro de relações exteriores argentino pareciam indicar que Kissinger aprovava a repressão a dissidentes. “Se há coisas que precisam ser feitas, vocês devem fazê-las rapidamente”, disse Kissinger, segundo uma transcrição.