Estreou nesta quinta (17) no Brasil o filme Transformers 4: A Era da Extinção. Com direção do incansável Michael Bay (que assinou os três longas anteriores da série), o novo produto já chega turbinado por recordes nas bilheterias mundiais: na China, é o filme de maior sucesso de todos os tempos, com US$225 milhões, até agora; nos EUA, cerca de US$213 milhões. No total mundial, o filme já está na casa dos US$700 milhões.
Mas e daí? Se o objetivo era ganhar dinheiro (e era, e é), os produtores estão de parabéns. Agora, se vamos falar das qualidades cinematográficas do filme… é a velha história: nem sempre aquilo que faz sucesso e rende milhões é uma coisa boa.
Obviamente, para o público-alvo do filme, Transformers 4 é perfeito: tem ação ininterrupta, efeitos especiais impressionantes, explosões, bombas, tiros, acidentes e estouros a granel, criaturas gigantescas, mocinhos “legais” e vilões repugnantes. Para quem quer se anestesiar, é prato cheio. Mas foi nisso que o cinema de Hollywood se transformou?
É triste e cruel constatar, mais uma vez, que os blockbusters de Hollywood – cuja era se inaugurou nos anos 70, com Tubarão (1975, de Steven Spielberg) e Guerra nas Estrelas (1977, deGeorge Lucas) – provocaram a morte da criatividade no cinema. E não precisava ter sido assim. Afinal, os dois filmes citados, e grande parte dos blockbusters que foram produzidos nos anos 70 e 80, eram comerciais sim, mas não deixavam de ser criativos e principalmente respeitosos a uma regra básica: não tratar o público como imbecil.
Em algum ponto na virada dos anos 80 para os 90, os produtores de Hollywood passaram a ignorar essa regra. E o público obedeceu, e passou a se comportar dessa forma: aplaudindo cada vez mais filmes sem nenhum conteúdo, apoiados exclusivamente em efeitos e clichês.
Com a decadência das salas de cinema, a situação piorou e entrou em cena o famigerado 3D (resgatado dos anos 50), na tentativa de voltar a atrair o público para as salas. Deu certo, mas a que preço?
Assim, Transformers 4 segue a cartilha mercenária da Hollywood atual: ação, efeitos especiais, sequências vertiginosas, transformações espetaculares, efeitos em 3D, tudo over – o filme tem 2h45 de duração. E não há história para contar em tanto tempo – ao contrário de clássicos do cinema como …E o Vento Levou (1939), O Poderoso Chefão (1972) e até mesmo Titanic (1997), que tinham duração imensa também.
Ao longo dessa duração excessiva, o que se vê em Transformers 4 é um fiapo de história, repleta de clichês e de personagens maniqueístas: os vilões são completamente maus, cruéis, implacáveis, detestáveis, sem nenhuma humanidade. E os mocinhos são legais, generosos, simpáticos, bacanas, “cool” – e claro, fazem até piadinhas enquanto despencam de prédios de 200 andares ou escapam de explosões mortais.
Nem dá para criticar as fraquérrimas atuações (?) dos atores, que estão ali como meras peças de uma engrenagem, servindo de apoio para os verdadeiros protagonistas do filme: as criaturas de ferro e aço, os Transformers, claro. E mesmo estes sofrem de um grave problema: não possuem carisma, nem graça, nem impacto. Além do que, a velha fórmula da “criatura monstruosa perseguida pelos humanos cruéis e que na verdade tem um coração” está completamente gasta – já vem sendo usada desde King Kong (1933), pelo menos.
Mas como esperar algo diferente de um filme que se utiliza o tempo inteiro de clichês? O desfile de cenas familiares ao público mais atento é interminável, repetindo ou praticamente citando cenas vistas em filmes como True Lies (1995) e Minority Report (2001), ou nas sagas Máquina Mortífera, Duro de Matar, O Exterminador do Futuro, Jurassic Park…
Enfim, em resumo, um filme que é rico em efeitos especiais e visuais, porém completamente pobre de conteúdo, de história, de criatividade, de ousadia. Com tanto dinheiro para fazer o filme, por que não fazer algo mais relevante? A resposta é simples: não precisa, o público-alvo do filme já está hipnotizado e devidamente lobotomizado. Para quem ainda tem massa cinzenta, porém, a conclusão é esta: Transformers 4 A Era da Extinção é o símbolo do vazio atual de Hollywood.