No último sábado, a Coluna do Boleiro mandou mensagem para Tite e quis saber: “Você se despede do Brasil com a certeza de que fez tudo o que podia para que a seleção vá bem no Mundial?”. A resposta veio no domingo, às 5h30 da manhã: “Sim. Humanamente!!!”. O time do Brasil que vai à Copa do Mundo da Rússia já está em Londres onde treinará até seguir para Viena (Áustria) e, em seguida, para a base em Sochi para a Copa do Mundo.
Tite tem na cabeça que está fazendo o “humanamente” possível para o time do Brasil mostrar serviço em território russo. A comissão técnica trabalhou muito nos quase dois anos em que o treinador está no comando da seleção. No último dia 21, quando 16 dos 23 jogadores se apresentaram na Granja Comary, em Teresópolis, o assistente técnico Cléber Xavier foi perguntado pelo Boleiro se estava ansioso. A resposta escrita foi reveladora: “Tranquilo. Tanto trabalho que não tem espaço para ansiedade”
O técnico do Brasil tem um discurso prudente. Não promete título nem show. “Prometo competitividade e desempenho”, disse depois de anunciar os 23 convocados que pretende levar até a Rússia. Assim, Tite trabalha com conceito de excelência. Para ser um grupo forte, é preciso trabalho árduo dentro e fora do campo.
A seleção brasileira treina e muito. No ano passado, desde que assumiu a seleção brasileira, Tite e seus companheiros de comissão técnica comandaram 33 treinos táticos ou técnicos, somando 23 horas e 19 minutos de atividades práticas. Esta conta deve dobrar até a estreia na Copa do Mundo, no dia 17 de junho. Mas a diferença não está no tempo e sim na maneira como os treinos são feitos.
A seleção brasileira trabalha quase o tempo todo com treino aproximado. São 11 contra 11, campo reduzido para tirar espaço e obrigar os jogadores a serem rápidos e certeiros tanto na troca de passes quanto nos desarmes. “Nossos treinos de posicionamento ofensivo e defensivo são sempre assim, aproximados”, conta Xavier que, ao lado de Fernando Lázaro, orienta os movimentos ofensivos. A defesa fica por conta do ex-lateral Sylvinho e de Matheus Bachi, filho de Tite e auxiliar técnico.
Com Tite não existe treino coletivo e muito menos o famoso “rachão”. Aliás, estes recreativos já causaram até corte de jogador na véspera da Copa. Foi o que aconteceu com o volante Emerson, que sofreu luxação fratura no ombro direito num sábado em Ulsan (Coreia do Sul), quando brincava como goleiro na véspera da estreia no Mundial da Ásia em 2002.
Uma das lições: não se brinca em serviço na véspera de Mundial. Ela é fruto de muitas conversas com quem, ao contrário de Tite e comissão técnica, tem experiência de Copa do Mundo. Boa ou até ruim.
Há cerca de um mês, o ex-jogador Juninho Pernambucano passou quase seis horas da sede da CBF. Foi convidado para almoçar com Tite e seus homens. Almoçou. E ficou lá sendo sabatinado sobre a Copa do Mundo da Alemanha, em 2016, torneio em que ele jogou como titular no jogo diante da França, pelas quartas de final. O Brasil, dirigido por Carlos Alberto Parreira, foi eliminado nesse confronto.
Juninho respondeu perguntas sobre o que deu errado com o grupo que tinha faturado a Copa das Confederações um ano antes e contava com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Ariano, Kaká, Robinho, César Sampaio, Cafu e o próprio Juninho. Tite quis saber se a preparação pública em Weggis, na Suíça, tirou o foco dos atletas, se o relacionamento do treinador com atletas era bom e, enfim, quis detalhes de erros que podem ser evitados.
Juninho Pernambucano foi um dos vários convidados (ex-atletas, jogadores em atividade, treinadores, jornalistas etc) que andaram pela CBF para conversar sobre relacionamento com a imprensa, modos de concentração (aberta como em 2006 ou fechada como em 2010), métodos de treinamento, relacionamento entre os integrantes do grupo e até trocando experiências de como técnicos chegaram às listas de convocação em Mundiais anteriores.