O tarifaço anunciado por Donald Trump pode atingir em cheio a produção de laranja no Brasil. E o prejuízo pode ocorrer para os dois lados.
O setor de suco de laranja brasileiro, líder mundial em exportações, está no centro da crise comercial entre os dois países. Trump anunciou, na última semana, uma tarifa de 50% sobre produtos do Brasil, medida que pode elevar os impostos sobre o suco para até 70% do valor total e colocar em risco milhares de empregos, a renda de pequenos produtores e a estabilidade econômica do país.
- Em 1981, os produtores brasileiros de laranja esperavam exportar pelo menos meio bilhão de dólares do produto.
- Em 1984, os números que mais entusiasmavam os produtores eram os da exportação, que cresceu graças à geada da Flórida.
- Em 1986, a sobretaxa de 8,5% representava uma despesa de US$ 100 por tonelada.
- Em 2000, um dos maiores problemas enfrentados pelo Brasil era a questão do imposto pago pela exportação.
- Em 2025, Trump disse que o Brasil receberia uma carta com uma nova tarifa, a exemplo de outros países que receberam avisos de sobretaxa na segunda-feira (7).
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Há décadas acontece isso: a laranja brasileira é alvo preferencial das disputas comerciais com os Estados Unidos.
E agora não é diferente: esse setor vai ser altamente impactado pela tarifa de 50%, anunciada esta semana pelo presidente americano Donald Trump, sobre os produtos do Brasil.
“O Brasil é o maior exportador de suco de laranja do mundo. Nós somos responsáveis por 34% da produção de fruta, 60% da produção de suco e 75% do comércio internacional”, diz Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR.
Nos anos 1980, a produção brasileira competia diretamente com as laranjas da Flórida. Mas isso mudou.
“Nos áureos-tempos da Flórida, ela chegou a produzir perto de 10 milhões de toneladas. Hoje, essa produção caiu para perto de 500 mil toneladas. Então é uma mínima parte do que ela já foi”, afirma Netto.
A estimativa, hoje, é que cerca de metade de todo o suco consumido nos Estados Unidos venha de laranjas brasileiras.
“O estado de São Paulo é o maior produtor de laranja do mundo”, afirma Antônio Carlos Simoneti, produtor que vende parte das frutas para grandes exportadores de suco.
“É um impacto, é um baque, é um desespero. O que vai acontecer? Desespero para lá e para cá. Mas eu acho que temos que ter cautela, calma e paciência. Os americanos têm a tradição de ter o suco de laranja na mesa no dia a dia”, Simoneti.
A produção e a logística, até o suco chegar aos americanos, são altamente tecnológicas. Mas tudo começa com as mãos. A laranja ainda é colhida manualmente.
Simoneti afirma ter cerca de 300 pessoas entre a parte administrativa, a parte de trabalho no campo e a parte de colheita. Depois da colheita, é fabricado o suco para aplacar a sede dos estrangeiros.
Isso acontece em fábricas como a mostrada em vídeo, no Paraná, de onde são exportados dois produtos diferentes: o suco natural, do jeito que sai da laranja, e o concentrado, que passa por desidratação e viaja em navios especiais, a dez graus celsius negativos.
Hoje, depois de todas essas etapas, o suco brasileiro já paga, nos Estados Unidos, US$ 415 de taxa por tonelada. Esse imposto dá cerca de 15 a 20% do valor total.
Mas, se Donald Trump não estiver só fazendo cena, e a taxa de 50% emplacar mesmo, as empresas calculam que os impostos chegariam a cerca a 70% do valor das exportações.
“Sobra para você remunerar todo o setor, indústrias, produtores, trabalhadores, insumos, com somente 30% desse preço total”, diz Netto.
A a tarifa de Trump, além de aumentar os preços para o consumidor de fora, pode causar problemas no Brasil, que vão ser sentidos não só pelos empresários exportadores, mas por todos os brasileiros.
“O presidente Trump deve estar muito mal informado, porque nos últimos 15 anos o déficit para o Brasil é de R$ 410 bilhões entre comércio e tarifas. Portanto, não existe explicação a não ser uma falta de informação e depois tentando atrapalhar uma relação muito virtuosa que o Brasil tem com os Estados Unidos há 200 anos”, afirma o presidente Lula.
Para o setor de laranja e dezenas de outras indústrias, como as de carne, café, aço, alumínio, resta esperar pela implantação – ou não – da tarifa de 50%. Uma esperança é que as próprias empresas americanas, que importam os produtos brasileiros, pressionem o governo de lá.
“A gente acredita, que muito provavelmente se abrirão espaços para negociações e as coisas devem se acomodar”, comenta Inhase.
“Agora, que a gente tenha um bom desfecho com isso e, se possível, a gente possa brindar com o suco de laranja”, afirma Netto.