conhecido nos Estados Unidos como Super-Terça Feira, consagrará Hillary Clinton como virtualmente imbatível na disputa pela candidatura democrata e também favorita nas eleições presidenciais de novembro. Com Donald Trump, a situação é um pouco mais complicada. Ele deverá ganhar em nove dos 11 Estados que realizam prévias. Mesmo assim, a elite do partido republicano continuará tentando barrá-lo.
As condições para isso acontecer são várias e, embora em seu conjunto sejam improváveis, elas se tornaram a única esperança de deter Trump, um populista imprevisível cuja vitória poderá levar o Partido Republicano à implosão e redesenhar completamente o cenário político americano. Na Convenção Republicana de Cleveland, em julho, vence o candidato que reunir 1237 delegados nas prévias. Trump começa o dia com 82, Ted Cruz com 17 e Marco Rubio com 16.
Dos 641 delegados em jogo nas prévias de hoje, apenas 595 serão decididos pelo voto, pois Colorado e Samoa Americana não obrigarão os seus a comprometer-se com nenhum candidato na Convenção. Rubio tem chance de vencer em apenas dois dos demais 11 Estados: Minnesota (38 delegados) e Virgínia (49). Cruz é favorito no Texas (155). Nos demais, o vencedor deverá ser Trump.
A maioria dos Estados designa seus delegados aos candidatos de modo proporcional à votação. Uma regra estabelecida depois das eleições de 2012 favorece Trump. Em muitos distritos, apenas os dois primeiros colocados conquistam delegados. Naqueles com três, o primeiro colocado leva dois, e o segundo fica com um. Mesmo que vença com 30% dos votos, portanto, Trump leva dois terços dos delegados.
A matemática para Rubio se tornou cruel. A primeira condição para ele conseguir se manter viável na disputa é Trump ir mal nas votações de hoje, de modo que não consiga reunir muito mais de 200 delegados – e é perfeitamente possível que ele chegue a 300. A segunda condição é que Cruz e o governador de Ohio, John Kasich, também se deem mal e desistam imediatamente da disputa.
Cruz poderá desistir, pois hoje votam os estados do Sul, que lhe são mais favoráveis pela demografia predominantemente evangélica e conservadora. Se perder para Trump neles, como sugerem as pesquisas, pouca chance lhe restará nos demais. Mas a desistência de Kasich é improvável, pois ele deverá a votação em Ohio, no próximo dia 15, onde estarão em disputa 66 delegados.
A terceira condição para Rubio é justamente, no dia 15, vencer naqueles Estados que concedem todos os seus delegados ao primeiro colocado: Ohio (66) e Flórida (99), sua base política e Estado onde é favorito. Se ele levar esses 165 delegados, conseguirá se aproximar de Trump na contagem geral.
Um cenário possível é aquele que os americanos chamam de “brokered convention”, ou convenção negociada. Trata-se da situação em que nenhum dos candidatos consegue reunir nas prévias os 1237 votos de delegados necessários para vencer. Isso ocorreu pela última vez entre os republicanos em 1948, quando Thomas Dewey só se tornou candidato após três escrutínios e uma intensa negociação entre os caciques partidários.
Nesse tipo de convenção, os delegados são obrigados a votar no candidato para o qual foram designados nas prévias apenas no primeiro escrutínio. Isso abriria ao establishment republicano toda sorte de intriga e negociação de bastidores para derrotar Trump a partir da segunda votação na Convenção. Nesse cenário, qualquer resultado é possível. É nisso que aposta Kasich, mas a situação também favorece Cruz e Rubio.
A probabilidade de que cada uma dessas condições ou cenários se tornem realidade é pequena. Levando em conta as pesquisas eleitorais, o favoritismo de Trump só faz crescer – ele está com 49% das intenções de votos entre os republicanos na última sondagem divulgada pela CNN e 36% na média das pesquisas do site RealClearPolitics. O FiveThirtyEight avalia que ele atingiu até agora 114% de sua meta em número de delegados. Ao final do dia, poderá não restar muito a seus adversários, a não ser dar risada assistindo ao excelente vídeo do comediante John Oliver veiculado nesta semana.