Se as redes sociais se mostraram uma importante ferramenta de mobilização para os protestos populares que ocuparam as ruas do País em junho de 2013, elas devem se tornar protagonistas das eleições deste ano. Especialistas ouvidos avaliam que os candidatos que estiverem atentos aos temas debatidos na internet estarão um passo à frente na disputa eleitoral.
Pesquisas do Labic (Laboratório de Estudos sobre Imagens e Cibercultura) da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) apontam que as eleições já alteram a movimentação dos ativistas nas redes sociais.
A atividade dos internautas indica, por exemplo, o fim da bipolaridade política. As redes de ativistas continuam divididas entre os que apoiam o governo PT e os que são contra a gestão petista. No entanto, uma terceira rede foi detectada, em meados do ano passado, com um perfil mais independente, conectada com as demandas que surgiram durantes os protestos.
Para os pesquisadores do Labic, isso demonstra que uma rede de subgrupos está cada vez mais ativa no debate e discute a política do País de uma forma mais pulverizada, sem vinculações partidárias.
O coordenador do Labic, Fabio Goveia, avalia que os candidatos não podem mais ignorar os grupos populares que não têm atuação na política tradicional. Segundo o especialista, a campanha eleitoral vai ter de abrir espaço para discutir as demandas dessa parcela da população.
— O momento agora é de se criar um processo de diálogo com esses campos populares, que estão nas ruas, porque não é possível mais ignorá-los. O fim da polaridade em algumas temáticas mostra que, os que não estão ligados a nenhum partido estão ligados a movimentos sociais, a grupos independentes e tem uma força maior que os grupos políticos.
Propaganda negativa:
O cientista político da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) Ricardo Ismael avalia que a televisão ainda vai ser o maior veículo de propagação das ideias dos candidatos e que as redes sociais contemplam um grupo muito específico do eleitorado.
Para o professor, ainda é pequena a porcentagem de pessoas que têm acesso à internet em casa e que os efeitos produzidos na internet serão sentidos somente por quem participa ativamente das redes — a maioria jovens e de renda alta.
Mas o especialista admite que os candidatos precisam estar atentos principalmente em relação à propaganda negativa nas redes sociais. Segundo Isamel, boatos se disseminam rapidamente e podem extrapolar os limites da internet.
— Um boato começa a se propagar nas redes sociais e, neste caso, os candidatos têm que estar atentos para poder neutralizar isso. O problema é quando você tem uma propaganda que vai se massificando, e para se massificar tem que sair da internet e chegar na televisão.
Os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que, em 2012, 40% dos domicílios brasileiros tinham acesso à internet. Mas, se o número ainda não representa nem metade da residências do País, aponta um crescimento de quase 44% em relação a 2010.
Nas últimas eleições presidenciais, somente 27% das casas no Brasil tinham acesso à internet. É por isso que o coordenador do Labic defende que os políticos que acreditam que o discurso das redes sociais é localizado e pontual, podem se surpreender.
O professor Goveia, do Labic/UFES, concorda que ainda é pequena a parte da população que participa ativamente das redes sociais. No entanto, ele pondera que os temas discutidos nessa plataforma refletem o que ocorre fora dela e, por isso, os candidatos precisam estar sempre atentos.
— A rede é um pedaço pequeno da população como um todo, mas representa a reverberação de outras ações offline. A rede pode não ser hoje uma rede que abarca toda a extensão das pessoas, mas reflete uma parte muito considerável. Ouvir a rede é ouvir, talvez, os temas importantes de um modo geral.