Para críticos, após duas décadas do reality shows, redes apelam para surpreender o público; Discovery Channel foi o pioneiro
A fórmula de alguns programas de namoro na TV já ficou bem conhecida: um grupo de solteiros e desimpedidos viaja para uma ilha paradisíaca, onde participa de competições e passa por vários testes para definir, no final do programa, quem será o (a) escolhido (a). A novidade? Agora os participantes estão nus.
Esse é o conceito de Dating Naked (“Paquerando Pelado”, em tradução livre), o novo reality show do canal VH1, distribuído na TV a cabo americana.
O Discovery Channel foi o canal primeiro a tentar a sorte com um programa do gênero, Naked and Afraid (“Pelado e com medo”, em tradução livre), que estreou um ano atrás. No programa, dois competidores do sexo oposto devem sobreviver como vieram ao mundo em um local remoto por 21 dias em condições difíceis.
A transmissão do primeiro episódio, em junho de 2013, conseguiu atrair mais de 4 milhões de espectadores – a melhor audiência de estreia do Discovery em vários anos. Agora o programa é um dos mais vistos no disputado horário de domingo à noite.
Além de Dating Naked, recentemente se juntaram à programação de televisão nos Estados Unidos os programas Buying Naked (“Comprando Pelado”) e Naked Vegas (“Pelado em Las Vegas”).
No primeiro, corretores de imóveis tentam vender casas para potenciais compradores em uma comunidade nudista na Flórida. Já Naked Vegas, no canal SyFy, mostra as aventuras da proprietária de uma loja de pintura corporal em Las Vegas, apelidada de “Cidade do Pecado”.
Apesar dos nomes sugestivos, esses programas não mostram muito na nudez dos protagonistas – as partes íntimas aparecem pixelizadas ou estrategicamente cobertas por mobiliário ou decoração. Os telespectadores precisam usar a imaginação.
Os produtores de Dating Naked consideram o programa “um experimento social” para ver como dois estranhos se comportam sem roupa. Já os realizadores de Naked and Afraid insistem que a nudez não é o principal elemento da trama, mas sim a habilidade dos participantes em sobreviver em um ambiente hostil.
No caso de Buying Naked, o canal TLC aponta que o programa tem como objetivo mostrar a realidade dos amantes do naturismo, com a qual o público não está familiarizado. Porém, os críticos de TV enxergam os programas de maneira diferente.
Muitos argumentam que, duas décadas após a estreia do primeiro reality show na TV, é difícil surpreender o público. Apresentar competidores pelados é como os programas tentam se diferenciar da concorrência.
“Assim como acontece com os demais programas, os reality shows são cíclicos”, afirma Oriana Schwindt, editora da revista americana TV Guide Magazine.
“Por um tempo, todos faziam competições culinárias, até que a audiência começou a declinar. Teve também uma época em que estavam na moda competições de canto. Ultimamente notamos que elas também já não são tão bem sucedidas”, disse Schwindt à BBC.
“Os canais precisam se diferenciar da concorrência e competições com pessoas nuas é uma maneira de fazer isso. Além do quê, esses programas têm custo de produção relativamente baixo, portanto, são muito atraentes para as emissoras.”
Segundo Schwindt, os produtores desses reality shows “não têm problema em admitir que o formato é destinado a elevar a audiência, mesmo que estejam chegando aos limites”.
Fusão de formatos
Dominic Patten, editor de TV da publicação especializada Dateline Hollywood, observa um outro fenômeno na tentativa dos canais de cabo de reinventar o formato dos reality show.
“No caso de Dating Naked, por exemplo, estão se fundindo dois formatos: um clássico, que é o namoro na TV, com um novo, que são os participantes pelados”, disse Patten.
“De qualquer forma, a nudez tem sido parte de reality shows desde o início. Concorrentes são frequentemente exibidos sem roupa em todas as oportunidades.”
O jornalista não está convencido de que a moda dos pelados vá durar muito tempo, porque “uma vez que os telespectadores se acostumarem, perde o fator novidade”.
Já Oriana Schwindt acredita que enquanto o público continuar assistindo, as emissoras continuarão a apostar na nudez. Mas ela acredita que existem limites.
“Eu não acho que veremos em breve uma versão de Dança dos Famosos em que os competidores apareçam nus”, brinca Schwindt.