Advogados da ex-companheira de Gugu Liberato, Rose Miriam di Matteo, defendem que ela apresentava “quadro delirante paranoico” e estava em depressão quando assinou o documento que a tirou do testamento do apresentador.
Um laudo da psicóloga Vera Lúcia Gonçalves atesta que Rose estava sob tratamento à base de remédios, cujo efeito colateral era “perda significativa de memória e sintomas dissociativos”, termo que, segundo ela, se refere a quando o paciente “não consegue juntar as ideias em decorrência de enorme stress das doenças”.
O laudo foi produzido no último dia 20 de fevereiro e anexado ao processo em que Rose pleiteia união estável com o apresentador. A defesa dela sustenta que a família conviveu nos últimos 20 anos “de modo duradouro, contínuo e público”, ainda que os dois não fossem casados. A ação corre na 9ª Vara da Família e Sucessões do Foro Central de São Paulo.
Rose e a família de Gugu travam uma disputa pelo direito à herança avaliada em quase R$ 1 bilhão. O apresentador morreu em novembro do ano passado, em decorrência de um acidente sofrido na casa em que morava com Rose e os três filhos, em Orlando. Poucas horas após o sepultamento do apresentador, foi lido à família o testamento elaborado por ele em 21 de março de 2011, que excluiu dela os direitos de herdeira.
Também em 2011, Rose e Gugu firmaram um termo de compromisso de criação de filhos, que previa pagamentos mensais a ela, de R$ 18 mil. Atualmente, a defesa atribui a medida a uma crise no relacionamento da dupla, que teria sido superada nos anos seguintes.
De acordo com a defesa, os documentos foram assinados quando Rose vivia o momento mais difícil da luta contra a depressão, na mesma época em que teria tentado suicídio. Para sustentar a tese, a defesa anexou ao processo cópias do prontuário de internação da paciente no hospital Albert Einstein, em São Paulo, em 27 de janeiro de 2011.
“Paciente admitida na unidade para tratamento psiquiátrico, veio do Rio de Janeiro, onde reside. Possui três filhos, um de 9 anos e gêmeas de 7 anos. Não possui casamento estável. Refere chorando não ser uma boa mãe e sentir solidão. Há dois dias tentou suicídio. Mentiu para o médico que seus remédios haviam acabado e solicitou nova receita”, registra o relatório do hospital Albert Einstein, referente à data de internação.
“Tomou 12 comprimidos de rivotril, 4 comprimidos de dramin, 10 comprimidos de dipirona e outros comprimidos que fez uso (sic) por ter encontrado pela frente”, continua.
Os documentos do hospital registram visitas diárias de Gugu, apesar da crise conjugal que viviam naquele momento, segundo a tese da defesa. Nos prontuários, o apresentador se apresentou como “companheiro (esposo)” de Rose.
A mãe dos filhos de Gugu recebeu alta hospitalar em 10 de fevereiro de 2011. Pouco mais de um mês depois, em 21 de março, o apresentador lavrou o testamento em que deixava todo o seu patrimônio para os filhos e os sobrinhos, deixando Rose de fora da partilha.
Apenas quatro dias depois, em 25 de março, Gugu e Rose assinaram um “compromisso conjunto para criação de filhos”, em que firmam terem se vinculado apenas “por respeito e amizade”, sendo portanto “ligados tão somente como pais e como responsáveis pelo bem-estar de seus filhos”.
No mesmo documento, Gugu e Rose atestam que “nada têm a reclamar um do outro pela deliberação de ambos em terem os seus filhos a qualquer título”, e declaram estarem “plenamente satisfeitos, cada qual mantendo e conservando, isoladamente, sem qualquer participação ou ingerência do outro, os seus próprios bens”.
Em petição, advogados de Rose argumentam que a cliente “não estava em condições de gerir os atos de sua vida civil naquele determinado momento”. Ainda de acordo com os defensores, “o testamento de Gugu foi feito ignorando-se propositadamente a companheira Rose Miriam”, e a realidade descrita no “compromisso conjunto para criação de filhos” é distinta da atestada em entrevistas e imagens do casal.
O laudo e os dados do prontuário médico de Rose somam-se a indícios levados ao processo pela defesa dela para atestar o relacionamento com Gugu. Conforme revelou O GLOBO, há pelo menos 75 imagens de Gugu, Rose e família em diferentes situações, como viagens de família, comemorações de aniversário e outros encontros. Os advogados também anexaram dados de uma conta conjunta que era mantida em nome de Rose e do apresentador.
Em seu testamento, Gugu destinou 75% do seu patrimônio aos filhos João Augusto, Sofia e Marina. Os outros 25% deveriam ir para seus cinco sobrinhos. A inventariante do testamento é Aparecida Liberato, irmã do apresentador.
Após a leitura do testamento, Rose procurou o escritório do advogado Nelson Willians. Na ação patrocinada pelo escritório, ela pleiteia a anulação do testamento e o direito a 50% do patrimônio do apresentador.
A reportagem perguntou a representantes dos filhos e da inventariante do testamento de Gugu se o documento que tirou Rose do testamento do apresentador, de fato, foi assinado em uma época em que os dois viviam uma crise conjugal. Perguntou também se os dois retomaram o relacionamento depois do episódio, como alega Rose Miriam. Os advogados informaram que não comentariam o assunto. “Com relação às questões, devido ao fato do assunto estar sob sigilo judicial, os advogados irão respeitar esse sigilo”, informou a assessoria.
Em nota divulgada no último mês, advogados dos filhos de Gugu declararam “não pactuar com espetáculo que pretende transformar mentira em verdade, para desvirtuar os legítimos desejos de seu pai e, principalmente, a realidade por todos eles vivenciada”. Eles defendem que o testamento assinado por Gugu em 2011, ainda válido de acordo com entendimento do Judiciário, seja mantido e respeitado.