O primeiro ministro da Grécia e líder do Syriza, Alexis Tsipras, se prepara para realizar nesta quinta-feira (16) uma remodelação de seu governo após o duro golpe sofrido na madrugada durante a votação parlamentar do pacote de reformas estipulado pelos países da zona do euro.
“O resultado da votação mostra uma grave divisão na unidade do grupo parlamentar Syriza”, reconheceu o porta-voz do governo, Gavriil Sakellaridis, pouco depois de 32 dos 149 deputados do partido terem se posicionado contra o pacote de medidas.
Primeiro passo
Apesar de o parlamento ter dado o primeiro importante passo para um acordo com os sócios europeus para obter o terceiro resgate financeiro, o grupo de deputados decidiu “não respaldar o governo de esquerda e votou contra o esforço para evitar a quebra”, disse Sakellaridis em declarações aos jornalistas.
“A prioridade mais imediata do primeiro-ministro do governo é fechar um acordo”, acrescentou o porta-voz, em referência direta sobre a votação que ainda será feita na próxima quarta-feira sobre o segundo pacote de reformas, que poderia travar as negociações para o terceiro programa de auxílio.
A votação que deveria ter terminado até à meia-noite, conforme o acordo assinado na segunda-feira (13) em Bruxelas, só foi ocorrer às 2h locais (20h desta quarta, 15, em Brasília). Do total, votaram a favor da medida 229 deputados. Outros 64 foram contrários ao terceiro resgate e houve também seis abstenções.
Entre os que rejeitaram a proposta europeia estava o ex-ministro das Finanças, Yanis Varoukafis, o ministro da Energia, Panayotis Lafazanis, e outros três ministros-adjuntosLafazanis alegou que não votou contra o governo do qual faz parte, mas sim contra o programa imposto pelos sócios. “Não votamos contra o governo, pelo contrário, apoiamos o primeiro-ministro”, disse Lafazanis, porta-voz da denominada Plataforma de Esquerda, ala mais esquerdista do Syriza.
Após insistir que não tinha intenção de renunciar após a votação, o ministro de Energia cedeu e afirmou durante a madrugada que estava disposto a deixar o cargo se isso fosse exigido por Tsipras.
A expectativa é que o primeiro-ministro faça uma ampla reformulação do governo. De acordo com a imprensa local, as mudanças não só se limitariam substituir ministros e vice-ministros que votaram contra o novo pacote.
O jornal esquerdista “Efimerida ton Syntakton” afirma que se o cenário da votação se repetir na próxima semana, o que parece provável dada a profunda divisão interna do Syriza, Tsipras poderia optar por renunciar, já que estarão completados os requisitos para abrir negociações sobre um acordo final com os demais países da zona do euro.
RESUMO DO CASO
– A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
– Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
– Em 30 de junho, venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Então, o país entrou em “default” (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro. Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de “expulsão” de um país da zona do euro. No dia 13 de julho, outra dívida com o FMI deixou de ser paga, de € 450 milhões.
– Como a crise ficou mais grave, os bancos estão fechados para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
– A Grécia depende de recursos da Europa para manter sua economia funcionando. Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu em 30 de junho.
– Em 5 de julho, os gregos foram às urnas para decidir se concordam com as condições europeias para o empréstimo, e decidiram pelo “não”.
– Nesta semana, os líderes europeus concordaram em fazer um terceiro programa de resgate para a Grécia, mas ainda exigem medidas duras, como aumento de impostos, reformas no sistema previdenciário e mais privatizações.
– O parlamento grego tem até esta quarta (15) para aprovar o pacote de reformas e conseguir dinheiro para saldar parte do que deve aos credores.
– A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
– Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é “terceirizada” para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.