O actual Presidente da Polónia admitiu a derrota na segunda volta das presidenciais na noite de domingo, poucas horas depois de terem fechado as urnas. Fê-lo frente aos resultados das sondagens à saída das urnas, que o colocaram seis pontos percentuais atrás do mais conservador Andrzej Duda, 47% contra 53%, do partido Lei e Justiça. Os resultados oficiais são esperados no final do dia desta segunda-feira.
“Respeito a vossa escolha”, disse Komorowski no seu discurso de derrota, na noite de domingo. “Desejo ao meu concorrente uma presidência de sucesso”, concluiu.
É um resultado surpreendente para Andrzej Duda, mas mais ainda para o actual Presidente Bronislaw Komorowski que, apenas três dias antes da primeira volta, surgia com oito pontos percentuais de avanço relativamente ao candidato do Lei e Justiça. Komorowski, também ele conservador, mas europeísta e mais próximo do centro, foi Presidente durante cinco anos de franco crescimento económico da Polónia, período ao longo do qual o país se consolidou como a maior potência do Leste europeu.
A estes factores juntam-se o de Andrzej Duda ser significativamente mais novo e relativamente desconhecido. O advogado de 43 anos (contra os 62 de Komorowski), natural de Cracóvia, foi escolhido das fileiras do Lei e Justiça quando as presidenciais pareciam decididas para o lado de Komorowski e do seu partido, também Governo, Plataforma Cívica.
Antes destas eleições, Duda fora vice-ministro da Justiça no breve Governo de Jaroslaw Kaczynski. Jaroslaw, irmão gémeo de Lech Kaczynski (o Presidente polaco que morreu num desastre de aviação na Rússia, onde perderam a vida outras 95 pessoas, em 2010) é novamente candidato às próximas eleições legislativas. Uma das principais linhas de ataque de Komorowski a Duda, durante a campanha da segunda volta, era a de que este não passava de um fantoche de Jaroslaw Kaczynski.
A derrota de Komorowski está a ser interpretada sobretudo como uma derrota do Plataforma Cívica e um factor potencialmente decisivo para as eleições legislativas de Outubro. Na primeira volta, Komorowski não foi apenas surpreendido por Duda, que o superou pela magra vantagem de 34,8% contra 33,8%, mas também pelo candidato independente Pawel Kukiz, que, em protesto contra o sistema eleitoral polaco, conseguiu 20,8% dos votos.
Sob o Governo do Plafatorma Cívica, que chegou ao poder em 2007, a economia da Polónia cresceu 33%, ignorando em larga medida a crise na Europa – durante o mesmo período, a economia da União Europeia cresceu apenas 3,5%. Mesmo face a este crescimento económico, o Governo, liderado primeiro por Donald Tusk e agora por Ewa Kopacz, é criticado por ter aumentado a idade de reforma, mas também por não ter conseguido que a prosperidade económica no país se sentisse nos salários da classe média.
Estes foram dois dos principais pontos eleitorais de Andrzej Duda na agenda nacional. Mas este, como Presidente, está afastado do poder legislativo. A vitória deste domingo pode, por isso, ser uma antecipação do voto no Lei e Justiça em Outubro, que deve fazer campanha com as mesmas reivindicações.
Por enquanto, a presidência de Andrzej Duda é um sinal de que a Polónia poderá afastar-se dos novos aliados no contexto europeu e voltar a atenção para o interior do país. Quando o Plataforma Cívica chegou ao poder, em 2007, a Polónia passou a ser uma das principais aliadas da Alemanha, que suplantou os Estados Unidos como o maior parceiro externo. O papel da Polónia na União Europeia foi ganhando importância ao longo dos últimos dez anos. Tanto assim foi que, no final de 2014, Donald Tusk, então primeiro-ministro, foi apontado para o cargo de Presidente da Comissão Europeia.
Duda e o Lei e Justiça deram um tom marcadamente nacionalista e eurocéptico a estas eleições presidenciais. Duda é contra a entrada da Polónia na Zona Euro e, ao longo da campanha, afirmou que o país não está a conseguir fazer valer os seus interesses no interior da União Europeia.
O candidato do Lei e Justiça afirmou ao longo da campanha que não permitirá que a Polónia se torne num país de “classe B” na Europa, apontando para os milhões de polacos que emigraram para outros estados europeus à procura de melhores salários.