As Forças Armadas colombianas vão voltar a bombardear posições estratégicas das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). A ordem foi dada na quarta-feira directamente pelo Presidente, Juan Manuel Santos, em resposta à morte de dez soldados numa emboscada realizada pelas forças rebeldes.
O ataque ocorreu durante a madrugada de quarta-feira na província do Cauca, a 80 quilómetros a Sul de Cali – uma região na costa do Pacífico onde as FARC têm uma forte presença histórica. A versão dos acontecimentos difere entre o Exército e os guerrilheiros.
Os sobreviventes falam de uma emboscada feita pela coluna móvel Miller Perdomo, que actua naquela região onde é responsável pela exploração mineira ilegal. “A maioria dos meus companheiros estava a descansar (…) os que puderam reagir a tempo somos os que estamos aqui, a maioria perdeu a vida porque não conseguiram reagir”, disse um dos militares ao canal de televisão Caracol. O ataque foi levado a cabo por 15 guerrilheiros armados “com artefactos explosivos, granadas e armas de fogo”, contou Mario Valencia, comandante da Terceira Divisão do Exército.
Diferente é o relato feito pelas FARC que, através de um comunicado, denunciam o “assédio militar do Exército”, o qual foi respondido por uma “reacção legítima” do grupo. Pastor Alape, um dos dirigentes da equipa de negociadores, falando a partir de Havana onde decorrem as conversações de paz, não afastou directamente a hipótese de se ter tratado de um ataque da autoria do grupo guerrilheiro. “Seja emboscada, contra-emboscada, assalto, ou que quer que tenha sido, o que temos que ver é que há colombianos mortos, e isso é que é preciso travar.”
O Presidente colombiano deslocou-se a Cali para averiguar o que tinha acontecido aos dez soldados mortos – algumas notícias falam em onze, número que não foi confirmado oficialmente – e acabou por concluir que se tratou de um “ataque deliberado e não fortuito”. Depois de reunir com o conselho de segurança, Santos deu ordem para que fossem retomados os bombardeamentos sobre os acampamentos das FARC, pondo fim a umasuspensão das hostilidades que vigorava desde 10 de Março.
O ataque representa também um duro revés para as negociações de paz que decorrem em Havana desde 2012 e que tinham entrado recentemente numa nova etapa. A oposição colombiana, defensora de uma linha dura no relacionamento com as FARC, já veio aproveitar para criticar o processo de paz. Álvaro Uribe, ex-Presidente e líder do Centro Democrático, afirmou que “uma política de segurança na Colômbia exige recomeçar os bombardeamentos e muito mais”.
No entanto, nem o Governo nem as FARC parecem querer pôr em causa o processo de paz que tem o objectivo de acabar com um conflito armado que em 50 anos fez mais de 220 mil mortos. Na mesma declaração em que anunciou o retorno dos bombardeamentos, Santos reconheceu que este tipo de ataques “demonstram, uma vez mais, a necessidade de acelerar as negociações que ponham fim a este conflito”. Os negociadores das FARC apelaram à “assinatura de um cessar-fogo bilateral”.
As negociações de Havana têm sido feitas de avanços e recuos e, em Novembro, foram mesmo suspensas por Santos, por causa do rapto de um general pelas FARC. No entanto, depois de serem retomadas, as duas partesempenharam-se em acelerar o processo – assente em várias etapas temáticas (reforma agrária, legalização política, indemnização das vítimas, combate ao tráfico de drogas) que no conjunto abrem caminho para o acordo geral de paz.
Para já, os analistas dizem que é necessário clarificar o que de facto sucedeu em Cauca. Se ficar provado que se tratou realmente de uma emboscada, a questão passa a ser até que ponto há colunas armadas que não respondem à hierarquia das FARC – cuja direcção declarou em Dezembro um cessar-fogo unilateral.