A Polícia Militar abriu uma sindicância para apurar um suposto caso de racismo envolvendo cinco policiais de São José dos Campos (SP). O objetivo é apurar se os PMs foram agressivos ao abordar três homens negros na tarde da última sexta-feira (29). Segundo a denúncia feita pelos homens abordados, os policiais os chamaram de “neguinho”.
Fabiano Augusto Pereira dos Santos, de 18 anos, disse que estava com o cunhado Jefferson Machado Corrêa, de 20 anos, quando foi abordado de forma agressiva pelos policiais, que os teriam acusaram de roubo. “Encostaram a arma no Jeferson e disseram ‘vai neguinho, passa a arma, perdeu’. Em seguida, disseram a mesma coisa para mim”, disse Fabiano.
Na tentativa de conter a ação dos policiais, o assessor parlamentar Claudinei Corrêa, de 45 anos, que é sogro de Fabiano e pai do Jefferson, se envolveu na abordagem. “Cheguei falando baixo, tentando falar educadamente e dizer que eles eram trabalhadores, universitários, e que estava acontecendo um equívoco. Mas um dos policiais me pegou pelo colarinho e foi quando comecei a falar alto para todo mundo o que estava acontecendo”, conta.
De acordo com ele, a funcionária da loja em que eles haviam comprado um tênis foi até o local entregar a nota fiscal do produto para comprovar a compra. “Tínhamos acabado de comprar. Todo mundo começou a gritar que era preconceito. A partir daí, a polícia recuou. Não somos contra a PM, somos contra o ato de preconceito racial”, disse ele, que é presidente da ONG Afronorte, que atua contra preconceito e discriminação de negros na cidade.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra os policiais na abordagem, tentando levar os suspeitos à delegacia por desacato. A filmagem não mostra o início da abordagem, mas os homens tentando provar inocência aos policiais, que são vaiados por pessoas que presenciaram a ação.
Outro lado
A Polícia Militar informou que os policiais que realizaram a abordagem dos jovens estavam averiguando um roubo a uma loja cometido por cinco homens. De acordo com a nota, “ao avistarem os policiais, eles agiram de forma a chamar a atenção, sendo iniciada a abordagem policial”.
A PM informou ainda que eles não obedeceram aos policiais e passaram a incitar a população afirmando se tratar de racismo. “Foi dada a voz de prisão aos dois jovens, que se recusaram e por isso, se enquadram no crime de desobediência”, diz trecho de nota enviada pela PM.Toda a ação foi gravada pelas câmeras de monitoramento do Centro de Operações Integradas (COI) e do estabelecimento comercial e as imagens foram entregues à Polícia Civil.
O capitão Wilker Lopes afirmou que não há indícios de que os policiais tenham chamado um dos envolvidos de “neguinho”. “Não há nenhum registro desse tipo de fala. O que temos são registros de imagens e, pelas imagens, a abordagem foi correta. Isto está sendo apurado tanto por inquérito, como por sindicância e se for apurado qualquer irregularidade na conduta do policial militar, ele será submetido às normas vigentes da inistituição”, disse.
A Polícia Civil foi procurada desde o início desta quarta-feira (3), mas nenhum responsável foi encontrado para falar sobre o caso. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) também foi procurada e informou que compartilha a mesma posição da PM.