Marcados para o mesmo horário na Avenida Paulista neste domingo (24), dois protestos se encontraram e se dividiram em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand. Policiais militares precisaram fazer cordão para separar os dois atos.
De um lado, um grupo de mulheres contra o feminicídio. Do outro, manifestantes que pedem a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) e o ex-senador José Sarney (PMDB).
As mulheres protestam contra a morte da jovem argentina Lucia Péres, 16 anos, estuprada e assassinada e empalada no país vizinho. Nomeado de “Ni una menos [Nenhuma a menos]”, as manifestantes gritam dizendo que o machismo mata e o feminismo liberta.
Inicialmente, os manifestantes estavam apartados pelo canteiro central e a ciclovia que dividem a via nos dois sentidos. As acusações eram só verbais: “Lula na cadeia, apoio ao Moro” e do outro lado, “Machistas, fascistas, não passarão”.
Depois, por volta das 16h, um idoso e um vestido com camisa verde e amarela adentraram à pista oposta e foram provocar as feministas aos gritos de: “Vai para Cuba!” Elas respondiam dizendo: “Se cuida, se cuida, se cuida seu machista, a América Latina vai ser toda feminista.”
Mais verde-amarelos entraram na pista sentido Consolação e a provocação continuou. Houve até quem pedisse para que as mulheres depilassem as axilas.
No sentido Paraíso, o grupo que se diz de direita faz declarações afetuosas ao juiz Sérgio Moro, do Paraná, e a Bolsonaro, deputado federal pelo Rio de Janeiro. Gritos de apoio à Polícia Militar também foram proferidos. Já o grupo liderado pelos movimentos feministas, pede a saída de Michel Temer (PMDB), o fim da Polícia Militar, machismo, do feminicídio, a legalização do aborto, além de ser contrário à PEC 241, que cortará investimentos públicos pelos próximos anos.
Quando o ato das mulheres saiu em caminhada, pouco antes das 17h, as manifestantes fizeram um jogral: “Lúcia Perez, presente!” Depois, “Nenhuma a menos!”, “Nem recatada, e nem do lar, a mulherada está na rua para lutar”. “Machismo mata, feminismo liberta”.
Próximo à Rua Augusta, as manifestantes sentaram no chão da via e fizeram um novo jogral para explicar ao público que circulava próximo a um shopping da região, o porquê do ato.
“Aqui no Brasil várias Lúcias morrem todos os dias. E isso tem nome, se chama feminicídio. O Brasil é o quinto país no mundo com maior índice de feminicídio. Parem de matar as mulheres. Nós as queremos livres, e sem medo. Machismo mata.”
“Vamos debater sobre o que é o feminicídio. As mulheres são mortas por serem mulheres. Ato é em solidariedade à Lúcia Perez, e a todas as mulheres vítimas da violência”, diz Maria das Neves coordenadora da UJS (União da Juventude Socialista) Feminista.
“O machismo no Brasil é institucionalizado.” Ela defende que a PEC 241 irá ceifar ainda mais os investimentos em políticas públicas para combater a violência contra a mulher, impedir que o debate sobre a cultura do estupro, o machismo e as questões de gênero sejam feitos dentro da escola. O ato também é organizado pelo Coletivo Ártemis, e União Brasileira de Mulheres.
Maria disse que as manifestantes foram xingadas de “prostitutas comunistas” e “vagabundas” pelos direitistas.
O ato teria uma oficina de cartazes e um debate sobre o feminicídio com uma advogada, mas por conta das provocações, acabou sendo alterado, e ocorreu ao final do protesto. Às 17h, o a manifestação desceu a Rua Augusta sentido Centro e às 17h40, chegou à Praça Roosevelt. Após aula sobre o feminicídio do ponto de vista do Direito, o protesto terminou por volta das 18h com gritos de “Feminismo é revolução, feminismo é revolução”.