Uma descoberta de 2018, feita por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, encontrou 165 árvores dentro de rochas no município de Ortigueira (PR). O estudo foi publicado na revista científica Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology.
As análises mostraram que a floresta fossilizada existiu há 290 milhões de anos. Segundo os pesquisadores, as árvores tinham entre quatro e 18 metros.
A cientista Thammy Mottin, doutoranda e responsável pela pesquisa, considerou o achado uma surpresa, uma vez que a equipe estava em busca de amostras das rochas.
Em um comunicado, André Luís Spisila, geólogo e pesquisador do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), explicou o achado chama a atenção não só pela quantidade de troncos fossilizados e seu grau de preservação, mas também por estarem em posição de vida, o que é muito raro para plantas continentais.
As plantas encontradas são licófitas, que não possuem flores, do gênero das árvores do município paranaense, que fica a 256 quilômetros da capital, Curitiba.
De acordo com Spisila, a posição de vida “indica que o soterramento destas licófitas ocorreu de forma muito rápida e catastrófica. É um grande achado que irá colaborar para compreendermos melhor os paleoecossistemas, paleoclima e paleogeografia do antigo continente”.
Ele explicou ainda que na época em que essa floresta existiu, o Hemisfério Sul estava unido em um único continente chamado Gondwana, formado pela América do Sul, Austrália, África, Antártica e Índia.
No mesmo comunicado, a autora Thammy Mottin, ressaltou que “a descoberta da floresta é a mais importante em termos de qualidade de preservação e do número de árvores preservadas, principalmente, com tantos anos passados”.
Segundo ela, a posição das árvores é algo raro, tendo sido registrado na Patagônia, Argentina e no Rio Grande do Sul.
Além das 165 árvores fossilizadas, outras 50 plantas também foram detectadas na subsuperfície das rochas, indicando que haver centenas de outras delas na região, disse Mottin.
Importância dos achados
Na época em que a floresta estava viva, Ortigueira era banhada pelo antigo Oceano Panthalassa.
De acordo com a pesquisadora, “as plantas viviam na transição entre terra e mar, em algo semelhante ao que seria uma região de manguezal. Elas ocupavam um substrato frequentemente inundado”, afirmou.
Segundo a publicação da UFPR, a região costeira sofria influência da água doce dos rios e da água salgada do mar. A doutoranda explica que as licófitas eram uma das poucas plantas da época que suportavam viver em áreas inundadas e em condições de água salgada, por isso ocorrem poucas plantas associadas a essa vegetação.
Spisila, que também é presidente da Associação Profissional dos Geólogos do Paraná (AGEPAR), disse que o estudo traz uma melhor compreensão da evolução dos ecossistemas e climas terrestres.
“Entender os eventos do passado pode nos ajudar a fazer modelos de previsão para as atuais mudanças do clima, ou das mudanças que ainda irão acontecer”, avaliou.
Para ele, no mundo, os sítios geológicos têm ganhado mais notoriedade, não só para os estudos acadêmicos, mas também como locais de geoturismo.
Segundo ele, isso serve “para a admiração e compreensão da geodiversidade e do patrimônio geológico”.