Após uma etapa diplomaticamente complicada em Mianmar, o Papa Francisco chegou nesta quinta-feira (30) a Bangladesh, país que recebeu centenas de milhares de rohingyas, o tema central de sua viagem pela Ásia. A minoria muçulmana procurou abrigo no país após uma onda de violência em Mianmar.
Bangladesh, que tem uma população de 160 milhões de pessoas, é um dos países mais pobres do mundo e um dos mais expostos às mudanças climáticas. Há três meses o país também precisa administrar a chegada em massa de rohingyas procedentes de Mianmar.
Mais de 620 mil pessoas desta minoria muçulmana apátrida entraram no país desde o fim de agosto para fugir da violência do exército birmanês, que a ONU chamou de “limpeza étnica”.
Os rohingyas vivem na miséria, em acampamentos que chegam ao tamanho de cidades, onde dependem da distribuição de alimentos.
A crise humanitária, uma das mais graves no século XXI, é o pano de fundo da visita do pontífice de 80 anos, que permanecerá em Bangladesh no país até sábado (2).
Antes da viagem, o papa celebrou na manhã desta quinta-feira uma última missa que reuniu centenas de fiéis na catedral Santa Maria de Yangun.
Para a minúscula comunidade de 380 mil católicos bengaleses, a visita papal, a primeira desde a realizada por João Paulo II em 1986, é motivo de orgulho.
A mensagem da viagem do papa a Bangladesh, um país onde 90% da população é muçulmana, está destinada a todas as religiões, afirmou no início da semana o arcebispo de Dacca, o cardeal Patrick D’Rozario.
“O papa não vem apenas pelos católicos, e sim para a nação inteira. Para todos neste país, sem importar sua fé, suas crenças e sua cultura”, disse o cardeal.
As palavras de Francisco sobre a crise humanitária dos rohingyas são muito esperadas em Bangladesh. O papa expressou antes da viagem a preocupação com estas pessoas “torturadas e assassinadas por suas tradições e sua fé”.
Mas a diplomacia pesou na visita a Mianmar e o papa não abordou a questão frontalmente.
O clero local o aconselhou a não pronunciar a palavra “rohingya”, tabu neste país que considera que as pessoas desta minoria são estrangeiros.
Francisco, preocupado em não atiçar os ânimos de uma pública marcada pelo nacionalismo budista e as críticas da comunidade internacional, fez apenas referências à violência.
Em Mianmar, o papa fez apelos aos birmaneses pelo “respeito a todo grupo étnico” e a “superar todas as formas de incompreensão, de intolerância, de preconceito e de ódio”.
Durante a viagem a Bangladesh, Francisco não visitará os gigantescos acampamentos de refugiados do sul, que ficam a uma hora de avião Dacca, mas se reunirá na sexta-feira (1º) com uma delegação de refugiados rohingyas, um dos principais momentos da visita de três dias.
(Foto: Gemunu Amarasinghe / AP Photo)