A melhor campanha de sua história no primeiro turno do Campeonato Brasileiro coroou o São Paulo como campeão simbólico da metade inicial da competição e o credencia a brigar pelo título até o dia 2 de dezembro, data da rodada derradeira. Não há um só grande craque no time desequilibrando, nem atuações exuberantes de encher os olhos. Mas uma série de fatores ajudam a explicar por que se trata do melhor time do torneio no momento.
O grupo é bastante heterogêneo. Há jogadores rodados, garotos da base, estrangeiros… Mesmo assim, o discurso de Aguirre foi comprado por todos: cada jogo, uma final. Ninguém ousa falar em favoritismo, a começar pelo treinador, cansado de negar o rótulo quando provocado a cada entrevista concedida. “São 19 jogos e qualquer coisa pode acontecer”, falou o uruguaio, após a vitória de domingo sobre a Chapecoense. “São mais 19 finais, será decisivo até o fim”, afirmou o volante Hudson, provando que até as declarações parecem ensaiadas. Outro fato que vem chamando a atenção: apesar de ter um 11 inicial preferido, Aguirre vem rodando o elenco nas últimas partidas. Isso poderia cutucar o ego de alguns nomes mais badalados. Aparentemente, porém, o vestiário está controlado.
2. Veteranos motivados como garotos
Diego Souza, 33, e Nenê, 37, são os artilheiros do São Paulo no ano, com 11 gols cada. Por si só, tal estatística já demonstra o apetite de quem, em fase descendente da carreira, poderia estar sem “pegada” para tantos jogos decisivos. Nada disso. Ambos treinam com a mesma intensidade da garotada, cobram quem ameaça perder o foco e se colocam como peças fundamentais para o sonhado título. Não será surpresa se, ao fim das 38 rodadas e em caso de conquista, um dos dois for apontado como craque do campeonato. “O ambiente é muito bom, temos que confiar em nós e seguir, vamos nos ajudar sempre”, disse Nenê.
3. Arboleda tomou conta da defesa
Nos últimos anos, o sistema defensivo provocou calafrios no torcedor são-paulino. Diversos zagueiros passaram pelo time, mas exceção a Rodrigo Caio, que permanece no grupo, quase nenhum vingou. O equatoriano Arboleda fugiu à regra. Com uma regularidade impressionante, chamou a responsabilidade justamente no momento em que Rodrigo Caio se lesionou. Dificilmente erra, tem um “timing” preciso para os botes e é um gigante no jogo aéreo. As atuações acima da média parecem ter contagiado seus parceiros: ora Bruno Alves ora Anderson Martins. Com 16 gols sofridos, o São Paulo é dono da quarta melhor defesa do Brasileirão.
4. Reforços se encaixaram rapidamente
Não é raro uma peça nova demorar a se encaixar no time. Bem, com Everton e Rojas, dois dos reforços trazidos pelo clube no meio da temporada, a sensação é de que jogavam pelo São Paulo havia anos. O primeiro já marcou cinco gols e participa de quase todo lance perigoso do ataque. Pelo lado direito, o equatoriano é uma flecha. Contragolpes mortais, assistências… Juntos, fazem com o que o torcedor não sinta muita saudade de Cueva e Marcos Guilherme, dois homens de frente que foram embora em 2018.
5. Protagonistas quase sempre à disposição
A maior ameaça a um treinador em um torneio longo de pontos corridos – lesões – ainda não incomodou Aguirre tanto assim. Dos principais nomes do grupo, quem mais ficou fora se recuperando foi Jucilei. Mas em um setor no qual o treinador conta com variedade de boas alternativas (Hudson, Liziero, Araruna e Luan). Do quarteto ofensivo, ninguém se machucou gravemente. As suspensões também não têm desfalcado a equipe de uma só vez. Normalmente, o técnico perde um por jogo. Nenê, por exemplo, disputou todas as partidas pós-Copa do Mundo pendurado com dois amarelos. Até agora, apenas Militão (que já foi embora) e Hudson cumpriram mais de uma suspensão automática.
6. Diretoria mudou a atitude
Conforme o Estado já mostrou, os dirigentes viraram a chavinha em 2018. Do clube vendedor do ano passado, que fez um desmanche no meio da temporada, o São Paulo resolveu focar nas conquistas dentro de campo. Negociou quem podia e não era essencial ao esquema de Aguirre e ainda repôs as saídas com gente mais motivada. No último domingo, em entrevista exclusiva, o diretor executivo de futebol, Raí, falou que era impossível garantir a permanência de todos durante a atual janela de transferências, que se encerra no dia 31, mas que “muito dificilmente” alguma coisa mudará até lá.
7. Torcida tem feito sua parte
O São Paulo é dono da segunda maior média de público pagante do campeonato: 33.068 por jogo no Morumbi. Fica atrás apenas do Flamengo, que tem levado 47.876 fãs aos seus confrontos. Desde 2017, a torcida tem feito sua parte. A diferença foi que, no ano passado, empurrava o time para que não fosse rebaixado. Desta vez, colhe os frutos da sua fidelidade e vê a equipe brigar na parte mais alta da tabela.