O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta quarta-feira (1º) que seu país retomou relações diplomáticas com Cuba e que os dois países irão abrir embaixadas nos respectivos territórios.
Segundo Obama, ainda no verão americano o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, irá a Havana para hastear a bandeira dos EUA novamente em Havana.
“Mais de 54 anos atrás, no coração da Guerra Fria, os Estados Unidos fecharam sua embaixada em Cuba. Hoje posso anunciar que retomamos as relações diplomáticas e vamos reabrir nossa embaixada nos dois países”, disse Obama no jardim da Casa Branca.
O presidente americano ressaltou que está diante de um passo histórico, e afirmou que o progresso ocorrido nas relações entre os dois países mostra que “não devemos ficar presos no passado “
Obama afirmou que as medidas não são apenas simbólicas, mas terão como impacto direto na vida dos cubanos – trabalhando com o país para avançar no campo da democracia e dos direitos humanos.
Ele ressaltou, entretanto, que os dois países continuarão a ter diferenças profundas, que incluem a liberdade de expressão. Por isso, os EUA continuarão a se manifestar quando não concordar com os valores cubanos.
O presidente americano ainda afirmou que já é hora para o Congresso americano levantar o embargo econômico contra Cuba – medida que o governo cubano declarou ser necessária para o restabelecimento de relações entre os países.
Carta
Mais cedo, o diplomata-chefe dos EUA em Havana, Cuba, entregou uma carta de Obama direcionada ao presidente cubano, Raúl Castro, que tratava sobre a restauração das relações diplomáticas entre os dois países.
O americano Jeffrey DeLaurentis entregou a carta ao ministro interino das Relações Exteriores cubano, Marcelino Medina, em Havana.
Segundo o ministro, o a carta dizia que os dois países irão abrir suas respectivas embaixadas no dia 20 de julho ou a partir desta data.
A TV estatal cubana também afirmou que Raúl Castro disse em carta a Obama que Cuba decidiu retomar as relações diplomáticas e abrirá uma nova embaixada a partir de 20 de julho.
O governo cubano também afirmou que o fim das sanções econômicas é necessário com a restauração das relações diplomáticas, e afirmou que o governo dos EUA deve devolver a base militar de Guantánamo para Cuba.
Reaproximação
Na sequência de 18 meses de negociações secretas mediadas pelo Papa Francisco e Canadá, os dois líderes anunciaram em dezembro em separado, mas simultaneamente, que planejavam reabrir embaixadas nas capitais um do outro e normalizar as relações.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, é esperado em uma cerimônia de hasteamento da bandeira em Havana no final deste mês, quando a Seção de Interesses vai passar à condição de embaixada. A missão de Cuba em Washington passará por uma atualização semelhante.
O acordo de dezembro também incluiu uma troca de prisioneiros e tentou deixar para a história 56 anos de recriminações mútuas desde que os rebeldes comandados por Fidel Castro derrubaram o governo de Fulgencio Batista, apoiado pelos EUA, em 1º de janeiro de 1959.
Dois anos mais tarde, o presidente norte-americano, Dwight Eisenhower, fechou a embaixada dos EUA em Havana, em 3 de janeiro de 1961, menos de três semanas antes de o presidente eleito, John F. Kennedy, tomar posse. Em abril do mesmo ano Kennedy iria autorizar a invasão de Cuba pelos EUA, organizada por uma força de exilados cubanos. O ataque à Baía dos Porcos falhou e reforçou a posição de Fidel no país e no exterior.
Em outubro de 1962, Washington e Moscou quase foram à guerra nuclear por causa de mísseis soviéticos estacionados em Cuba.
Sempre desafiando seu vizinho situado a 145 quilômetros de distância, Fidel Castro, 88 anos, permaneceu no poder até 2008, quando entregou o cargo a seu irmão Raúl, 84.
Com as relações diplomáticas restauradas, os Estados Unidos e Cuba se voltarão para a tarefa mais difícil de normalização das relações globais. Os principais obstáculos incluem o embargo econômico dos EUA a Cuba e a base naval de Guantánamo, em Cuba, que os Estados Unidos arrendaram em 1903. Cuba quer que esses 116 quilômetros quadrados retornem ao país como território soberano integral.
Obama, um democrata, pediu ao Congresso controlado pelos republicanos, que removam o embargo de 53 anos, mas a liderança conservadora no Congresso vem resistindo.