A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, abandonou nesta terça-feira (27/5) uma audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, à qual ela havia sido chamada para falar da criação de áreas de conservação na região Norte, após ser alvo de declarações de senadores consideradas machistas e ofensivas.
O senador Plínio Valério (PSDB-AM), ao cumprimentar Marina, afirmou que desejava “separar a mulher da ministra”, porque a mulher “merecia respeito” e a ministra, não.
“Ministra Marina, que bom reencontrá-la. E ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra. Não estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito, ministra não. Por isso que eu quero separar”, disse Valério, líder do PSDB no Senado.
A ministra reagiu imediatamente, cobrando um pedido de desculpas. “Como eu fui convidada como ministra, ou ele me pede desculpas ou eu vou me retirar. Se, como ministra, ele não me respeita, vou me retirar”, disse Marina. Diante da recusa do parlamentar em se retratar, ela deixou a sessão.
Este não foi o primeiro ataque do senador a Marina. Em março, durante uma audiência da CPI das ONGs, Plínio declarou: “Imagine o que é tolerar a Marina 6 horas e 10 minutos sem enforcá-la?”. Na ocasião, a ministra respondeu: “Com a vida dos outros não se brinca. Só os psicopatas são capazes de fazer isso”.
A sessão desta terça foi marcada por uma série de embates e acusações de machismo. Em outro momento tenso, o presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), cortou o microfone de Marina, a interrompeu diversas vezes e, ao reagir a críticas, disse que a ministra deveria “se pôr no seu lugar”.
“Eu tenho educação, sim. O que o senhor gostaria é que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou. Eu vou falar”, retrucou Marina.
Rogério tentou recuar da fala, afirmando que se referia ao papel da ministra como representante do Executivo, e não a uma questão de gênero. Mesmo assim, a fala foi criticada por parlamentares presentes.
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) acusou o presidente da comissão de machismo, e o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), saiu em defesa de Marina, apoiando sua decisão de deixar a audiência.
Após deixar a sessão, a ministra disse a jornalistas que se sentiu agredida. “Fui agredida fazendo o meu trabalho tecnicamente”, afirmou.
“Hoje ele [Plínio Valério] chega lá numa sessão em que fui convidada como ministra do Meio Ambiente e diz que ia fazer uma separação entre a mulher e a ministra, que a mulher deveria ser respeitada e a ministra não”, continuou na coletiva de imprensa.
“Não é pelo fato de eu ser mulher que vou deixar as pessoas atribuírem a mim coisas que eu não disse.”