De que adianta ganhar amistosos, ficar invicto, ganhar a Copa América, e ter o melhor aproveitamento entre os treinadores, se no Mundial fracassa, me perguntam alguns internautas sobre o técnico Dunga. A vida no futebol é assim. Você pode ganhar quase tudo, mas, se perder um jogo de Copa do Mundo e for eliminado, adeus. Já que o futebol brasileiro aposta numa renovação de filosofia e na forma de jogar, acho que devem dar tempo a Dunga para realizar seu trabalho. Ele nunca foi o técnico dos meus sonhos, tampouco de 95% dos torcedores brasileiros, mas tem procurado fazer um trabalho com dignidade e carinho. Tem procurado se informar sobre novos treinamentos e tem apostado na recuperação de boa parte dos fracassados da Copa no Brasil. E os números até aqui o credenciam. Não há, no momento, uma Seleção que esteja jogando o fino da bola. Claro que a Alemanha é a atual campeã mundial, mas ela também tem dificuldades em alguns jogos. Porém, como escrevi outro dia, no geral tem um time, digamos, nota 8. Já o Brasil tem um time nota 6 e Neymar, um jogador que começa a fazer a diferença – eu diria, nota 9. É o caso da Argentina, que tem Messi, nota 10, e a maioria nota 7. Já Portugal tem Cristiano Ronaldo, nota 10, e o restante, nota 5. Isso significa dizer que não há uma grande referência.
Se houver um fracasso de Dunga na Copa América, não acredito que ele caia. Os dirigentes estão encantados com seu trabalho, sua sinceridade e conduta. Querem um trabalho a médio prazo, até o Mundial de 2018, pois esse é o objetivo. Há um longo caminho a ser percorrido, mas quando não há derrotas, não há crise, mesmo com a equipe jogando mal, como ontem, o que se justifica pelo fato de Dunga ter escalado seis reservas desde o começo, descaracterizando a equipe. Na fase final, com a volta de alguns titulares, o time melhorou e acabou vencendo pelo placar mínimo. Dunga faz um trabalho de recuperação de jogadores que fracassaram no Mundial e carregam os 7 a 1 diante da Alemanha nas costas. Reabilita a dupla de zaga, que chorou, Thiago Silva e David Luiz, pois vê neles sua história na Copa de 90, onde foi execrado e o grupo rotulado negativamente como Era Dunga. Teve a chance quatro anos depois, levantou o caneco e xingou todos nós da imprensa. E vale lembrar que ele não está nem aí para nenhum de nós. Faz aquilo que acha certo, sem se importar com as críticas. Continua sem amizade com a principal rede de TV do país e não dá privilégios.
Mas Dunga, em seu íntimo, sabe que ganhar a Copa América será fundamental para suas pretensões. Embora seja uma competição fraca, será seu primeiro grande teste. Ele acertou em cheio ao pôr Elias no time. O volante corintiano sobra na turma. Com ele, até Luiz Gustavo cresceu de produção. Dunga aposta em Oscar e Willian – para mim, fracos em criatividade. Mas o técnico reabilita mais esses dois fracassados do Mundial de 2014. Como não há camisa 10 de qualidade, acaba sempre confiando nos dois. Philippe Coutinho, por exemplo, toda vez que tem chance, não corresponde, e aí fica difícil. Éverton Ribeiro talvez tenha sua chance, mesmo atuando na China, mas não foi chamado para esses dois amistosos na Europa. Pelo que jogou nos últimos dois anos no Brasil, acho que a função de criador do time lhe cairia melhor do que com Oscar e Willian. Porém, como não joga no Velho Mundo, Ribeiro sai atrás.
Há uma coisa nos técnicos que a gente nunca entende. Fecham com determinados jogadores e pronto. É o caso de Oscar e Willian. Talvez a falta de opção obrigue Dunga a isso. Ou talvez seja teimosia. Se ele analisar friamente a participação de ambos no Mundial, verá que é um erro apostar neles. Mourinho, por exemplo, põe um ou outro ou, às vezes, nenhum deles. Já Dunga os escala como titulares. E ambos criam pouco ou quase nada. Resta Neymar, que se encorpou nesta temporada, tem feito excelentes jogos e já desponta como um grande jogador. Ontem, não esteve bem, até pelo excesso de preciosismo e por sua individualidade. Porém, é o nosso único nota 9. É com ele, com suas arrancadas, dribles e gols, que contamos para não ser apenas mais um time burocrático, sem muita inspiração, dono de uma forte marcação e só. O lateral-direito Danilo, que ontem deu o passe para o gol de Firmino, eu acho fraco. Há tempos digo que Marcos Rocha é o maior lateral do país – e não tem chance com Dunga. Acho que com ele o time ganharia muito no setor ofensivo. Dunga se segura nos números e na concordância da cúpula da CBF para se manter à frente do time canarinho. Porém, se quiser se tornar vencedor, vai precisar de muito mais. Precisará que Neymar se transforme em nota 10, e que os demais jogadores subam pelo menos para nota 8. Aí, sim, teremos um time, um grupo em condições de ganhar a Copa do Mundo, que, na verdade, é o que interessa ao torcedor. O resto é perfumaria.