O novo presidente de Petrobras, Aldemir Bendine, em entrevista exclusiva ao repórter Paulo Renato Soares, disse que a Petrobras vai superar a crise com o auxílio do quadro técnico. Bendine defendeu o modelo de partilha do pré-sal e ainda considerou adequada a desistência por parte da companhia de alguns empreendimentos.
Repórter: O senhor acaba de assumir uma das maiores empresas do mundo, com sérios problemas econômicos: perda de valor de mercado, grande endividamento, falta de recursos para investir já em projetos aprovados e segundo analistas com um grau elevado de ingerência do governo. Como é que o senhor pretende enfrentar essas questões e resolver esses problemas?
Aldemir Bendine: Por etapas. Primeiro, o mais importante na companhia, neste momento, é justamente a sua gestão de caixa e a sua gestão financeira. O endividamento não é tão elevado quanto se parece, dada a capacidade de geração de resultados da Petrobras.
Repórter: A Petrobras é uma empresa de capital aberto, com milhares de acionistas, mas com controle do governo. Analistas do mercado dizem que uma administração mais independente do governo seria mais recomendável, para que a Petrobras pudesse ter melhores resultados. A sua indicação sugere o movimento oposto, né? O senhor já falou disso do Banco do Brasil. O senhor acertou previamente com a presidente Dilma que a Petrobras deve ter liberdade para tomar suas próprias decisões?
Aldemir Bendine: O Conselho de Administração me fazer o convite, me deu total autonomia e liberdade na gestão da companhia. Em relação à questão do preço, eu acho que isso é uma coisa muito bem definida, a definição de preço. A Petrobras nunca vai se sujeitar à volatilidade do mercado internacional seja para cima, seja para baixo.
Repórter: O histórico mostra que o preço da gasolina foi usado para ajudar a política anti-inflacionária. O senhor tem conhecimento disso, né? O senhor acha que hoje a Petrobras teria mais liberdade de praticar os seus preços?
Aldemir Bendine: Não tenho dúvida nenhuma disso.
Repórter: Não se ficará sujeita a decisões políticas nem governamentais?
Aldemir Bendine: Não. Até porque já está traçado todo um projeto, né, de precificação de preços, olhando o futuro do preço do combustível e não se sujeitando a essas volatilidades do mercado externo e interno.
Repórter: O senhor é a favor desse modelo de partilha do pré-sal? Por quê?
Aldemir Bendine: Existem três modelos e eu acho que os três modelos convivem bem nesse modelo.
Repórter: O senhor falou do balanço e como é que o senhor pretende resolver o problema do custo da corrupção no balanço da empresa? O senhor vai reavaliar contrato por contrato para lançar o valor real dos ativos?
Aldemir Bendine: Nós estamos aí reavaliando uma série de ativos e as metodologias empregadas. A gente há de separar e a gente precisa deixar isso muito bem claro, que esse balanço vai refletir a situação atual da empresa em 2014. Ela pode estar sendo influenciada, sim, por conta da corrupção, mas também por outras variáveis como preço do commoditie, enfim, uma série de variáveis que estarão apontando também o real valor desses ativos.
Repórter: Por causa da corrupção a imagem da Petrobras está muito comprometida, né? Vista hoje como uma empresa bastante envolvida com a corrupção. Como é que o senhor pretende reverter essa situação?
Aldemir Bendine: O quadro técnico da empresa é o melhor quadro técnico do mundo neste setor. São pessoas extremamente engajadas que eu não tenho dúvida que darão uma resposta à altura. A Petrobras não vai parar. Ela não vai entrar em marcha à ré. Ela vai continuar trabalhando efetivamente.
Repórter: Eu queria voltar um pouco na questão da corrupção do balanço. Como é que o senhor pretende chegar a esse número? Se falou neste número de R$ 88 bilhões, mas que envolvia superavaliação de ativos, mas também a corrupção. Esse número para o senhor significa alguma coisa? Como o senhor pretende chegar ao número?
Aldemir Bendine: Não. Esse número não é um indicativo. Isso é um trabalho sendo feito com empresas que estão fazendo avaliações desses ativos. Isso vai ter que ser certificado depois, inclusive pela auditoria externa. O que nós estamos discutindo neste momento são as métricas, são a forma a ser utilizada na apuração disso. Então nós queremos em 2014 um valor justo e que mostre com muita clareza e transparência qual é o número da companhia no momento.
Repórter: Estados produtores como Rio ameaçam acionar a Petrobras judicialmente por causa das perdas com os royalties. Ceará e Maranhão querem indenizações por causa das duas refinarias canceladas pela Petrobras. Como é que o senhor vai enfrentar essas questões?
Aldemir Bendine: Primeiro, buscar um entendimento. Segundo, se isso até a via judicial a gente pode fazer esse tipo de discussão, mas eu percebi no pouco que eu pude avaliar até o momento que foram decisões acertadas.
Repórter: O mercado não recebeu bem a sua nomeação, pelo menos nos primeiros dias, porque o senhor fez carreira em um banco público e não teria sido testado em um ambiente de concorrência. O que o senhor tem a dizer sobre essa percepção?
Aldemir Bendine: Bom, primeiro que o Banco do Brasil, ele é um banco sociedade de economia mista. Então ele, efetivamente, trabalha muito pesadamente na concorrência e nesses seis anos nós tivemos a oportunidade de fazer uma gestão que triplicou os ativos do banco e dobrou o seu resultado. Então eu acho que eu sou muito testado em relação a mercado.
Jornal Nacional: Logo após sua nomeação, o Tribunal de Contas da União e a Polícia Federal decidiram investigar empréstimo concedido pelo Banco do Brasil, sob o seu comando, à empresa Torke Empreendimentos e Participações. Essa empresa, ligada a uma amiga sua, teria sido favorecida com a dispensa de formalidades exigidas pelo banco. Como é que o senhor responde a isso?
Aldemir Bendine: Bom, primeiro que são denúncias antigas e denúncias vazias, o que é muito comum quando você está à frente de um cargo público. Todas as informações foram prestadas e quem conhece minimamente o processo de decisão do Banco do Brasil, sabe que seria impossível um tipo de concessão que não tivesse dentro da norma.