Reinventar um ritual que se repete há 41 anos não é tarefa fácil. Com um roteiro que privilegia a carreira internacional do Rei, o especial Roberto Carlos, que vai ao ar nesta terça-feira (23), após “Tapas & Beijos”, se esforça para sair do lugar comum ao incluir no set list canções em inglês, espanhol, italiano e até hebraico. Mas quem assiste à gravação pela primeira vez tem a impressão de que nada ali foge do script. Quem garante um pouco de frescor à apresentação, portanto, são dois dos convidados da noite: Alexandre Nero e Sophie Charlotte.
“Atenção, aplausos, gravando!”. Passa das dez da noite quando o diretor de núcleo Luiz Gleiser dá o aviso, e Roberto Carlos entra em cena. Na gravação, há duas semanas, numa casa de shows na Barra da Tijuca, no Rio, a expectativa dos artistas era ver o ídolo de perto – ou garantir que algum parente tivesse o privilégio. Viviane Araújo levou a mãe, Neusa. Marilena, mãe de Paulinho Vilhena, veio de Santos só para o show.
Já Mariana Xavier, repórter do “Video Show”, pediu licença aos jornalistas na entrada do evento para garantir o lugar da avó, Risalva, de 86 anos. “Estou com dó de deixá-la em pé. Ela é muito fã, já foi a um show dele no Maracanãzinho, mas disse que foi de muito longe. Hoje ela vai conseguir ver as ruguinhas do Rei”, brincou ela, antes de se juntar à plateia de 2 mil convidados.
Com a manha de quem conhece o riscado, o Rei conduz o espetáculo com pouquíssimas pausas “para uma aguinha” em duas horas de gravação e quase nenhuma intervenção com a plateia, o que deixa a apresentação mais fria que o desejado. Até mesmo os momentos de descontração entre anfitrião e convidados soam previamente ensaiados. Coube então a Alexandre Nero quebrar um pouco o protocolo.
O ator, sucesso como o Zé Alfredo de “Império”, provoca a primeira piada da noite, quando o Rei dispara: “Meu medo é que você viesse de preto!”, numa referência ao figurino sempre escuro do Comendador. Mas Nero não incomodou o conhecido TOC do Rei e vestiu um terno azul claro. “Por você eu tiro, Roberto. Por você eu tiro tudo!”, brincou. Aproveitando a deixa do cantor, que havia feito menção ao romance entre Maria Isis (Marina Ruy Barbosa) e o dono da Império, Nero arrancou gargalhadas do público quando perguntou “Você já pegou mulheres mais novas? Não sei se posso dizer pegou, qualquer coisa vocês cortam”.”Já, sim”, respondeu um tímido Roberto, antes de começar o dueto em “Mulher de 40”.
Se Nero garantiu o humor, Sophie deu o toque de emoção que faltava. A atriz, que roubou a cena ao interpretar “Sua Estupidez” no primeiro capítulo da novela “O Rebu”, reprisou a música no palco, visivelmente emocionada ao cantar com o Rei, respirando forte e de mãos dadas com o ídolo. “Este ano recebi uma carta manuscrita pedindo autorização para cantar uma música minha na novela. Fazia tanto tempo que eu não recebia uma carta assim, que eu mesmo liguei para autorizar. E fiz questão de ter essa doçura hoje aqui”, anunciou Roberto.
O tema deste ano – a carreira internacional de Roberto – pode ter alterado o set list, mas é a tradicional “Emoções” que abre a noite. O roteiro tem ainda uma breve homenagem a Elvis Presley (“um dos meus primeiros professores de inglês”) com trecho de “Tutti Frutti” e “Lobo Mau” com Luan Santana. Alcione solta o vozeirão em “The Way You Look Tonight” e “Desahogo”, numa das performances mais aplaudidas do show. Numa brincadeira com Roberto, sobre o pedido de casamento feito no último encontro dos dois, a Marrom brincou: “A fila anda, hein!”.
O Rei ainda gasta todo seu castelhano em uma versão bilíngue de “Esse cara sou eu” e no clássico “El día que me quieras”. Em seguida, ao relembrar o show que fez em Jerusalém em 2011, o cantor chama ao palco Gloria Maria e os dois repetem a performance da última vez, dançando novamente no palco. “Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida”, afirmou a jornalista. “Adoro você e fiquei com vontade de dançar mais”, disse o Rei.
O entra e sai do palco corre sem maiores transtornos até o momento em que o Coral da Central Globo de Produção, formado por 27 adultos, é substituído pelo Coro Infantil da Orquestra Sinfônica Brasileira, composto por 65 crianças. A presença de tanta gente no palco requer algumas regravações para todo mundo sair e entrar no tempo certo. Mas logo “Jesus Cristo” encerra a apresentação, que segue com a tradicional distribuição de rosas, brancas e vermelhas, pelo Rei. “Fiquei emocionada, minha mãe chorou. E peguei uma rosa! Ainda bem que sou alta”, brincou a atriz Monica Iozzi.