Não me sinto culpada, nem arrependida porque sou inocente”, disse Anna Carolina Jatobá, condenada a 26 anos e oito meses de prisão pela morte da enteada Isabela Nardoni. A declaração, dada neste mês a um assistente social do sistema prisional paulista, compõe o relatório mais recente sobre o comportamento dela na cadeia. O documento será usado pela Justiça para decidir se a detenta pode ir ao regime semiaberto. A expectativa é que a decisão ocorra em 10 dias.
Jatobá está presa desde abril de 2008 em Tremembé (SP), condenada pelo homicídio qualificado da menina de 5 anos. Segundo a defesa, ela já cumpriu o tempo mínimo para ter direito à progressão, cujo um dos principais benefícios é ter direito às saídas temporárias. O pedido foi feito em abril.
O parecer de uma equipe técnica, que produziu neste mês laudos psicólogo e psiquiátrico, apontou, sobre o comportamento da detenta que ‘a possibilidade de reincidência é nula’.
Aos especialistas Jatobá afirmou ser inocente e disse desejar que a verdade sobre o caso apareça. Ela afirma ainda ter aprendido a ser paciente durante os nove anos em que esteve reclusa.
Questionada sobre seus projetos de vida, disse planejar após ter a liberdade definitiva buscar apoio dos familiares, manter o relacionamento com o marido Alexandre Nardoni, fazer um curso de moda e abrir um ateliê de costura.
“Quero estar com meus filhos. Vou morar em São Paulo ou uma cidade do litoral, trabalhar e tentar viver minha vida. Gostaria que um dia minha vida pudesse voltar ao normal. Gostaria de desenvolver o meu lado espiritual e ajudar as pessoas”, disse. Anna e Alexandre Nardoni têm dois filhos, de 10 e 12 anos.
De acordo com o psiquiatra que fez a avaliação, ela assimilou a gravidade do ocorrido, possui valores éticos e morais e é capaz de manter controle sobre sua agressividade e perspectiva de vida.
“Não podemos prever o futuro, entretanto diante do amadurecimento adquirido com o tempo, sua capacidade de refletir e construção de projetos de futuro nos faz pensar que, neste momento, sua possibilidade de reincidência é nula”, disse.
Na prisão, o relatório de uma profissional do núcleo de segurança e disciplina da penitenciária apontou que a detenta não tem em seu registro faltas disciplinares, tem conduta ótima, obedece às ordens, respeita os funcionários e normas da unidade.
Ministério Público
O laudo foi encaminhado ao Ministério Público que deu a ela parecer favorável à progressão ao semiaberto, diante das avaliações dos profissionais.
De acordo com o promotor Luiz Marcelo Negrini, as considerações mostram que a presa tem comportamento exemplar e que a concessão do benefício não pode estar atrelado à opinião pública, pela repercussão do fato.
“Vale dizer que a gravidade do crime e suas consequências, por mais nefastas e repugnantes que sejam, não podem prevalecer”, diz trecho do parecer. Ele frisou ainda que a progressão ao regime intermediário não significa liberdade, devendo a sentenciada amargar ainda longos anos no sistema prisional antes de ter direito à liberdade.
O parecer será encaminhado nesta semana à Justiça e incluso ao processo que pede progressão de regime à detenta.