O russo Daniil Medvedev, de 23 anos, foi o primeiro dos dois finalistas a pisar na quadra central do US Open neste domingo, às 16h09, no horário local (17h09, de Brasília), recebido em meio a uma mistura de poucos aplausos e muitas vaias. Em seguida, veio o espanhol Rafael Nadal, de 33 anos, ovacionado pelos mais de 20 mil torcedores no estádio Arthur Ashe, em Nova York. Era a resposta do público a duas semanas de disputas do último Grand Slam do ano, que se concluiriam nesta noite nova-iorquina. De um lado o russo, vilão que causou problemas no torneio. Do outro o espanhol, herói em busca de mais marcas históricos. E, para o delírio da audiência americana, o mocinho venceu no final. Nadal ganhou uma batalha em 3 sets a 2, parciais de 7/5, 6/3, 5/7, 4/6 e 6/4. E depois de 4h51 de uma partida épica, os gritos de “Rafa, Rafa” e os aplausos foram ainda mais efusivos, às 22h08, para o tetracampeão do US Open.
– Uma final incrível. Honestamente, tenho que parabenizar o Daniil por ter jogado o melhor verão de todos. E hoje a noite ele mostrou porque é o número 4 do mundo com 23 anos. Obrigado a ele. É uma das noites mais emocionantes de toda minha carreira. Obrigado a todos vocês, torcedores. A energia foi incrível. Essa vitória significa muito, ainda mais do jeito que foi, tão dura. Um jogo maluco. Estou muito emocionado. Obrigado por tudo – afirmou Nadal antes de receber o troféu.Este foi o quarto título de Nadal no US Open e o 19º em Grand Slams na carreira do espanhol. Ele já foi campeão em Roland Garros (12 vezes), Wimbledon (2), Aberto da Austrália (1) e, agora, US Open (4). Agora, ele está apenas um atrás do recordista, o suíço Roger Federer, de 38 anos e 20 troféus dos quatro torneios mais importantes do tênis na estante de casa. Com o título, Nadal também mantém algumas escritas. Desde que o suíço Stan Wawrinka levantou o troféu do US Open de 2016, apenas ele, Federer e o sérvio Novak Djokovic ganharam os 12 Grand Slams disputados. Assim, nenhum jogador em atividade com menos de 30 anos tem no currículo um título de major. Medvedev foi o mais recente desafiante a tentar entrar no clube. Não conseguiu desta vez.
A diferença entre as gerações está evidente nos números. Mas nem tanto em quadra. Era a 27ª final de Grand Slam para Nadal. E a primeira para Medvedev, agora número 4 do mundo. Na partida deste domingo, porém, os dez anos de diferença na idade e as dezenas de títulos a mais não deram tamanha vantagem a favor do espanhol. O primeiro set, por exemplo, durou mais de uma hora, com o espanhol muitas vezes sofrendo e deixando muito suor em quadra para bater o rival.
Afinal, não era um adversário qualquer querendo quebrar a hegemonia do “big three”. Medvedev havia ganhado 20 jogos e perdido apenas dois nesse verão em quadras duras na América do Norte. Uma contra Nadal. Justamente no único encontro entre eles até então. Os dois se enfrentaram na decisão do Masters de Montreal, há cerca de um mês. Nadal levou a melhor e ficou com o título do torneio canadense. Desde aquela final, Medvedev vinha em uma sequência de quatro finais seguidas e 12 vitórias consecutivas até a decisão em Nova York.
– Primeiramente tenho que parabenizar Rafa por alcançar 19 títulos em Grand Slams. Olhando o telão depois do jogo, exibindo todos os títulos do Nadal, pensei: “se eu ganhasse, o que eles iam mostrar?” – brincou Medvedev, que além de aplausos arrancou risos da torcida.
– Por causa da energia de vocês (torcedores), eu estive nesta final. Sou humano, cometo erros e peço desculpas – completou o russo, desta vez sem ironia, novamente sendo muito aplaudido pelo público.
HERÓI X VILÃO
Nadal chegava à sua terceira decisão de Grand Slam só neste ano (foi campeão em Roland Garros e vice na Austrália. No US Open, era a quinta final do espanhol. Além dos títulos de 2010, 2013 e 2017, foi vice em 2011. Desta vez, o número 2 do mundo era o gigante que sobrevivera no torneio após quedas precoces de Federer e Djokovic. Como os tenistas americanos não surgem na chave masculina com o mesmo esplendor da feminina, o público já havia adotado o espanhol como seu.
Do outro lado estava o oposto do bom moço que não desiste de jogada alguma para vencer. Sem entrar no clichê de ser um russo em território americano, Medvedev tinha assumido o papel de vilão ainda na primeira semana do torneio em Nova York. Vale destacar que a Rússia não vence um Grand Slam desde Marat Safin, na Austrália, em 2005.Voltando a Medvedev e seu personagem em Nova York. Logo na terceira rodada do US Open, ele se transformara em vilão ao dar um show de falta de respeito na partida contra o espanhol Feliciano López. O russo, primeiramente, arrancou bruscamente a toalha da mão de um boleiro e a jogou para o alto. Queria mais velocidade. Vaiado pelo estádio todo, ele ainda mostrou o dedo médio para a torcida, que o perseguiu até o fim do jogo. Após a vitória, irônico, ele disse que o triunfo, assim como os próximos, era graças à “energia” daquelas vaias dos americanos. Nas oitavas de final ele manteve a ironia após mais uma vitória. E, somente a partir das quartas, tentou uma reconciliação. Já era tarde. O US Open tinha seu vilão de 2019.