Na contramão da crise, os shoppings do Vale do Paraíba investiram nas atrações para o Natal deste ano. O personagem mais esperado pelas crianças nesta época, o Papai Noel, fatura salários que variam entre R$ 20 mil e R$ 30 mil por pouco mais de um mês de trabalho em São José dos Campos e Taubaté, no interior de São Paulo.
O trabalho temporário, considerado bem remunerado, exige paciência, bom humor, disposição para suportar o calor e pique para uma maratona que inclui o atendimento à centenas de crianças todos os dias.
Por isso, a seleção para as vagas impõe uma série de exigências aos postulantes ao cargo, que vão desde características físicas à aptidão para lidar com os pequenos.Há 24 anos no mercado natalino, o papai noel Georgibe Teixeira conseguiu, depois que assumiu profissionalmente o posto de ‘bom velhinho’, comprar casa, carro e todos os anos faz uma viagem internacional. “Gosto muito de viajar e conhecer lugares diferentes. Mas o que eu ganho no fim de ano ajuda de uma forma geral a viver melhor e completar a renda durante todo o ano”, conta. Durante o resto do ano, o idoso de 68 anos trabalha no setor administrativo de uma faculdade.
Além do atendimento ao público durante os 40 dias que antecedem o natal em um shopping de São José, o idoso de bochechas naturalmente rosadas e barba longa e branca é garoto propaganda em comerciais. Na noite do dia 24 de dezembro, ele visita casas sendo o ‘Papai Noel’. “Neste ano visitarei 11 casas. Saindo do shopping às 18h vou para a primeira casa e só paro a 1h da madrugada”, explica. Para entregar os presentes na noite de Natal, Georgibe cobra R$ 500 por casa.A seletiva para este trabalho difícil. Entre os requisitos indispensáveis estão a barba branca natural. “A seleção é criteriosa, porque têm poucos profissionais com as características reais de um Papai Noel. Buscamos trazer na decoração sempre algo surpreendente, mas sem dúvida, o Papai Noel é indispensável”, salientou o gerente de Marketing, Robson Mikio. Neste ano o shopping investiu R$ 4 milhões na decoração para o Natal.
Georgibe mantém a barba há 49 anos. A vivência do personagem natalino começou em casa com a família e por sugestão de um primo começou atuar profissionalmente no ramo. “Em 1992 quando comecei a trabalhar como Papai Noel, minha a barba era preta e por isso usava talco para que ficasse branca. Hoje não tem jeito, o ano inteiro sou chamado de papai noel”, contou sorrindo.
Entre as regalias, o ‘bom velhinho’ do Vale Sul, há 10 anos no cargo, tem camarim particular, um ar-condicionado ao lado do trono e um substituto para os dias de folga.
Recompensa
O aposentado Walter Corrente, de 76 anos, que atua há 16 anos como Papai Noel, também em São José, relata que além do calor, o bom velhinho precisa lidar com situações inesperadas. “Uma vez uma criança vomitou em mim e me sujei tudo. Tive que sair e me trocar, mas logo depois estava de volta!”, conta com bom humor.Mas para os Papais Noéis o mais difícil é ouvir pedidos difíceis de realizar. Eles contam que todos os anos se emocionam com históricas de fragilidade, pedidos de cura e solução de conflitos familiares.
“O pedido mais difícil que recebi foi de uma menininha pequena que pediu que eu trouxesse o pai dela que tinha falecido há um mês. Sempre faço uma oração antes de trabalhar e peço a luz do Espírito Santo. Disse a ela que o papai dela estava junto a Deus no Céu, mas que ele sempre estaria com ela, especialmente na noite de Natal”, recordou.
O aposentado conta que vê em cada criança que vem até ele um pouco do seu filho que faleceu anos trás em um acidente de carro. “Fiz uma promessa de não cortar minha barba para me curar de uma depressão. Fui convidado então por um palhaço chamado Riso para fazer o trabalho de Papai Noel, algo que tenho também como missão há 16 anos”, diz emocionado.