O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde (ANS) definiram normas para estimular o parto normal e reduzir o alto número de cesarianas no País. Uma das medidas que os médicos devem tomar é justificar a escolha da cesárea feita em gestantes. As resoluções foram publicadas ontem no Diário Oficial da União e devem passar a valer em 6 meses. Os médicos serão obrigados a preencher um partograma, espécie de documentação com informações do desenvolvimento do parto da paciente. Será utilizado para que os profissionais e hospitais recebam ou não os pagamentos dos planos de saúde.
O objetivo é que a cesárea seja realizada somente em casos de necessidade, como quando há risco de sofrimento ao bebê. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a taxa máxima 15% de cesáreas. No Brasil, a média é de 84,6% do total de nascidos. No ano passado, 82,42% dos partos de Rio Preto foram cesarianas.
Para o presidente local da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), José Luís Crivelin, a medida foi autoritária. “O governo tem razão em tentar aumentar o número de parto normal, mas não pode fazer desse jeito, tentando resolver isso de uma hora para outra, por meio de normas. Isso fere o direito da mulher de escolher o tipo de parto e a autonomia do médico.”
Mais estrutura
O diretor do Hospital da Criança de Rio Preto, Antônio Carlos Tonelli Gusson, acredita que as maternidades do País não estão preparadas para realizar partos normais. “É preciso encontrar caminhos para não colocar em risco a vida da mãe e nem do bebê. As maternidades teriam que ser aparelhadas e os profissionais preparados. Nem todo hospital conta com uma equipe preparada. Além disso, é preciso mudar a cultura da cesárea a longo prazo, por meio de campanhas educativas.”
Mudanças
Com base nas novas normas, as gestantes que têm plano de saúde poderão solicitar às operadoras os percentuais de cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde, por médico e por operadora. As informações deverão estar disponíveis no prazo de 15 dias. Os planos de saúde terão que oferecer o cartão das gestantes, com o registro do pré-natal.
O médico decidiu por Angélica e fez cesárea
Há um ano e oito meses, Angélica Martins de Souza, 25 anos, deu à luz Cairo. Durante a gestação, ela se preparou e se programou para o parto normal. O que não aconteceu no dia 16 de maio de 2013. “A médica do postinho falava que eu tinha todas as condições de parto normal. No dia 16, eu fui fazer um exame no Ielar, e um médico disse que estava tudo bem e que eu devia ficar no hospital, para entrar em trabalho de parto. Eu estava sozinha, só com uma pasta de documentos na mão”, relembra Amanda.
Enquanto ela aguardava para entrar em trabalho de parto, o plantão médico foi trocado. “Outro obstetra me olhou e disse que ia fazer cesárea, pois o bebê não se mexia. Ele não fez um exame ou algo do tipo. Eu questionei e ele disse que era ele que decidia. Aos prantos e desesperada, eu dei à luz meu filho.”
Apesar da experiência ruim, Amanda afirma que se prepara para ter outro filho. “Agora, eu tenho conhecimento dos meus direitos. Eu quero ter um parto domiciliar. Espero que com que essas mudanças, os médicos respeitem a opinião e o desejo da gestante de ter o parto normal. As mudanças serão pequenas, mas já é um começo, para as pessoas que estão acostumadas com as chamadas ‘desnecesárias’.”
Positivo
A enfermeira obstetra do grupo Beabá Bebê, da Unimed, Gabriela Cristina, acredita que “com as novas resoluções, as mulheres vão acabar optando pelo parto normal. Os benefícios são inúmeros, tanto para a mãe, quanto para o bebê.”No grupo, a principal orientação é que as gestantes fujam das cesáreas agendadas. “Cada vez mais, os médicos marcam a data e o horário do parto. O recomendável é que pelo menos o bebê dê os sinais de que está pronto para nascer.”