Boulos chega ao Palácio do Planalto com a missão de aproximar os movimentos sociais do governo de olho na eleição do ano que vem
O ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) foi escolhido para assumir o cargo. Boulos chega ao Palácio do Planalto com a missão de aproximar os movimentos sociais do governo de olho na eleição do ano que vem.
Ainda como deputado federal, Boulos esteve no Planalto nesta segunda–feira para o lançamento do programa Reforma Casa Brasil, uma nova política habitacional que busca facilitar o acesso ao crédito para reformas. Depois, retornou ao Planalto no começo da noite a pedido de Lula.
Com a troca, Lula quer ter no comando da Secretaria-Geral, pasta que faz interlocução com movimentos sociais e a sociedade civil, um nome que tenha canal direto com essas entidades e capacidade de mobilização. A estratégia de intensificar a relação com os movimentos sociais está ligada a disputa eleitoral do ano que vem. Boulos iniciou sua atuação política como líder do Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
O novo ministro também deve ter papel na negociação para a criação de regras para trabalhadores que atuam por meio de aplicativos, seja de entregas ou de transporte. Essa foi uma promessa de Lula na eleição de 2022 não cumprida até agora.
A expectativa é que Boulos fique no cargo até o fim do terceiro mandato de Lula em dezembro do ano que vem. Assim, o novo ministro não deve disputar a eleição de 2026, o que fará o PSOL sair em busca de outro puxador de votos em São Paulo para não perder espaço no Congresso.
Lula e Boulos tem uma relação pessoal e próxima. Nas eleições municipais de 2024, Boulos foi o único candidato para o qual Lula realmente se empenhou na campanha. Além de ter costurado a vice da chapa, Marta Suplicy, foi o fiador do repasse de fundo eleitoral do PT para a campanha do deputado e gravou propaganda eleitoral na sua casa, em São Paulo.
Em meados de abril, Lula sondou Boulos sobre a possibilidade dele assumir o cargo com assento no Palácio do Planalto. Lula quis saber se Boulos aceitaria abrir mão de disputar a eleição do ano que vem, para, caso seja nomeado, poder ficar no cargo até o fim do mandato do petista. O deputado vem indicando a aliados que poderá abrir mão de disputar a eleição em nome do novo desafio.
No mês passado, Lula já havia indicado a aliados que faria a troca na Secretaria-Geral. Na ocasião, Macêdo chamou a possibilidade de “fogo amigo”.
— O presidente nunca tratou desse assunto comigo. É fogo amigo. Essas coisas não me abalam. Não vou me mover por fofoca — disse na ocasião ao colunista Bernardo Mello Franco
Durante a gestão de Macêdo na Secretaria-Geral da Presidência, Lula reclamou publicamente do ministro em mais de uma ocasião.
Em dezembro de 2023, no evento Natal dos Catadores, em São Paulo, o presidente Lula pediu “menos discurso e mais entrega” a Macêdo e cobrou que o ministro e os catadores tivessem uma pauta de reivindicações.
Em maio de 2024, Lula reclamou de falta de “esforço necessário” para levar manifestantes ao ato do Dia do Trabalho convocado pelas centrais sindicais em São Paulo.
— Eu disse para o Márcio que o ato está mal convocado. Não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar — afirmou Lula à época, diante de uma plateia esvaziada.
No período em que esteve à frente da Secretaria-Geral, Macêdo sempre foi alvo de fogo amigo. Macêdo sofria críticas do Palácio do Planalto e de alas do PT que avaliavam que o ex-ministro tinha atuação apagada em uma pasta que sempre teve protagonismo em governo petistas, com capacidade de articulação e de formular políticas. Nos primeiros dois mandatos de Lula, a cadeira foi ocupada por Luiz Dulci, aliado histórico do petista e um dos fundadores do PT.
O entorno presidencial também argumentava que Macêdo acabou “esquecido” por Lula, com poucas agendas com o petista e ainda menos protagonismo em sua pasta.
Agora, aliados de Lula veem a troca como importante para que Boulos possa mobilizar a base de apoio petista já com foco na campanha de 2026.
Líder do movimento estudantil nos anos 1990, Macêdo é considerado um quadro relevante da burocracia partidária do PT, que ganhou a confiança de Lula quando organizou as caravanas pelo país antes do presidente ser preso em abril de 2018. Foi tesoureiro do PT e comandou as finanças da campanha de 2022, que foram aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
