Antibiótico criado em Itanhaém é feito a partir da planta ‘jacarandazinho’.
Estudantes estão fazendo rifa para apresentar o produto em feira nacional
Um grupo de jovens de Itanhaém, no litoral de São Paulo, realizou pesquisas e descobriu que uma planta conhecida como jacarandazinho pode ser a matéria prima para fazer antibióticos que combatem bactérias causadoras de doenças como furúnculo e pneumonia. A substância foi aprovada em laboratório, mas ainda não está autorizada a ser utilizada por seres humanos. O antióbico agora será submetido a testes da área de agronomia para ver se é capaz de aumentar o prazo de validade dos frutos.
O jovem Jeferson Tobias sempre esteve ligado a natureza. Por isso, foi fazer o curso técnico de Meio de Ambiente da Etec de Itanhaém. Ao passear na praia, ele observou as plantas da região e surgiu a ideia de fazer uma pesquisa sobre uma espécie característica bem brasileira. A Dalbergia ecastophyllum, conhecida popularmente como rabo de bugio, jacarandá ou jacarandazinho, é um arbusto muito comum na restinga e aparece em todo o litoral brasileiro até a América Central.
Natany Weller e Mariana Porto se uniram a ele para fazer pesquisas sobre a planta que também é encontrada em Itanhaém. Os três colheram a semente do jacarandazinho, plantaram na horta da escola e começaram a fazer os estudos. “Nós pesquisamos os compostos orgânicos da planta e descobrimos uma substância. Nós pegamos a seiva da planta, onde se concentra o maior número dessa substância, e produzimos um antibiótico”, explicou Natany.
O antibiótico desenvolvido foi testado em laboratório e comprovou que combate fungos e bactérias, causadores de várias doenças. “Pegamos a folha da planta, onde se concentra a maior quantidade da substância, e maceramos. Depois, deixamos por 30 dias no álcool 70. Filtramos a solução e fizemos os antibiogramas para ver se deu certo e se foi eficaz”, conta Natany.
O antibiótico deu positivo para o combate de bactérias causadoras de doenças como furúnculo e pneumonia. Porém, ainda não existem testes e nem aprovação da ANVISA para que o antibiótico, feito pelos jovens de Itanhaém, possa ser utilizado em seres humanos. “O teste que fizemos foi com a bactéria na placa. Teria que fazer um teste da ANVISA para ver como é a reação do organismo. Sabemos que funciona na matéria, mas não temos a autorização para testar em seres humanos. Ele seria utilizado, por exemplo, se você sofreu um corte, um furúnculo, para não inflamar”, explica Jeferson.
Os jovens irão avançar nas pesquisas sobre a planta. Com a ajuda de Amauri Rodrigues de Souza, professor de Agronomia e Matemática, eles vão começar a fazer testes com frutos para que o antibiótico possa ser usado também em plantações. “Para combater fungos, conservar alimentos, frutos, nessa área de agronomia pode ser que seja mais rápido para ser aprovado. A próxima etapa é testar com frutas, como conservante de alimentos”, disse o professor. Segundo ele, se os testes forem positivos, o antibiótico vegetal substituiria um fungicida químico e aumentaria a durabilidade de frutos.
O trabalho sobre o antibiótico vegetal foi apresentado na 7ª Feira Tecnológica do Centro Paula Souza (Feteps) e muito elogiado. Por isso, também foi levado para a 12ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada na Universidade de São Paulo. “Lá ganhamos o Prêmio de Investigação Científica e Sustentabilidade. Ganhamos a credencial para participar da Feira dos Municípios e 1ª Mostra de Iniciação Científica do Campus, que vai ser em Catu, na Bahia. Ganhamos o hotel, com tudo pago, só não ganhamos as passagens. Estamos correndo atrás de patrocinadores e fazendo rifas para ver se conseguimos o dinheiro para isso”, explica Jeferson.
Eles também gostariam que o antibiótico fosse realmente usado para a área de farmacologia ou para a área de agronomia. Mas, para isso, precisam do reconhecimento do trabalho em feiras científicas para que os fabricantes possam olhar o produto. Para eles, todo esse processo já parte do início de suas carreiras na área de meio ambiente. “Eu acho que é uma experiência bem legal para a gente. Eu e a Mariana temos 16 anos ainda e ter tudo isso no nosso currículo é muito importante”, finaliza Natany.