Incerteza política, inflação e juro alto prejudicam PIB, dizem especialistas.

A incerteza política existente no país por conta das eleições presidenciais em outubro, a inflação elevada e os juros em alta são fatores apontados por especialistas como os principais responsáveis pelo crescimento de apenas 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre deste ano, com relação ao quarto trimestre do ano anterior.

“O que estamos vendo em termos do crescimento já era esperado, principalmente por causa do quatro eleitoral do segundo semestre (…). O que aconteceu em termos de fatores de queda é consistente com o que está acontecendo na economia brasileira. Os empresários, principalmente da indústria, estão pessimistas com a inflação. A repercussão desse evento é a redução do investimento, a redução de novas plantas, e isso afeta a estrutura do consumo das famílias. Com queda do emprego e renda, as pessoas reduzem o consumo com medo do que pode acontecer no futuro”, avalia o professor de finanças e de MBA do Insper, Alexandre Chaia.

O consumo das famílias apresentou queda de 0,1% no primeiro trimestre com relação ao quarto trimestre de 2014, a formação bruta de capital fixo, que representa os investimentos, sofreu queda de 2,1%, confirmando o pessismo de analistas. Também caiu o resultado da indústria, com recuo de 0,8%.

“Isso é um sinal muito importante do que está acontecendo no Brasil, não só no primeiro trimestre, mas o que está apontando para o segundo trimestre, porque os dados de investimento são horríveis”, disse o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Fabio Kanczuk. ” Porque o investimento está colapsando? Por causa de uma eleição presidencial importante, que pode mudar o rumo da politica econômica.”

O economista Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, também avalia que o resultado já era esperado. “Não surpreendeu. É um crescimento muito baixo, reflete um nível de atividade econômica que está em redução no comércio, na indústria e em serviços, a coisa não vai bem, embora haja um nível de atividade em serviços, a indústria é um carro-chefe importante, o comércio está muito parado. Há quedas sucessivas da venda de varejo. Isso decorre da politica de juros muito altos, da falta de crédito, que está muito seletivo, de ganhos salariais ocorridos no passado. Isso desemboca numa redução do PIB, mostra a exaustão do consumo, do poder aquisitivo da população, com o comprometimento da renda com pagamento de dividas.”

“O aumento da renda é muito pequeno e a inflação está crescendo cada vez mais depressa”, avalia Grisi.

De acordo com Grisi, o investimento produtivo não acontece nem por parte do empresário brasileiro, nem pelo investidor internacional.

“O clima de negócios não conspira favoravelmente a investimentos, o governo não consegue fazer investimentos porque as contas públicas, os projetos relativos a privatização e as concessões públicas e serviços públicos não andam. A disposição do investidor internacional neste momento não é para trazer investimento para a produção no país. O clima é de incerteza muito grande, e o empresário nacional não se dispõe a investir, em todos os aspectos, os planos de investimentos ou foram suspensos ou adiados.”

O especialista acrescenta, ainda, que o desânimo do investidor é pela falta de mercado, tendo em vista o baixo crescimento do país, e também pela insegurança jurídica – tendo em vista que reformas importantes, como a tributária e a previdenciária, não avançam. “Os capitais especulativos entram porque eles enxergam a possibilidade de fazer lucro com juros elevados.”