Apesar de mais uma expulsão infantil na carreira, o jogador, que completou 26 anos no último dia 30, segue tratado como intocável na Gávea. Seus gols, suas assistências e seus títulos protegem o ídolo
E comemora, com razão, as 200 partidas de Gabigol com a camisa do Flamengo.
O fato de ser o mais jovem atleta a marcar 100 gols no Brasileiro.
Tudo o que as estatíscas favoráveis podem oferecer.
Mas não há como esconder as desfavoráveis, que também são marcantes.
Entre elas, seu lado disciplinar.
Ele é o atleta mais indisciplinado da elite do futebol brasileiro.
Em 200 jogos, inacreditáveis 58 cartões amarelos e sete vermelhos!
Se fosse zagueiro, já seria absurda a quantidade de advertências.
Como atacante, então, é revoltante, inaceitável, para um jogador com seu potencial, seu nível técnico.
Até mesmo ontem, que era um dia “de festa particular”, completando 200 jogos pelo Flamengo, ele conseguiu estragar, depois de marcar um gol.
Foi expulso no Maracanã, aos 48 minutos do segundo tempo, com seu time empatando diante do Ceará, precisando, desesperadamente, vencer para diminuir a vantagem do líder Palmeiras. Tomou vermelho por chutar a bola na direção de Zé Roberto. O atacante já tinha amarelo. O árbitro Paulo Zanovelli da Silva tinha razão, acertou em mostrar o vermelho.
Gabigol acumulou seis expulsões por reclamações com árbitros e discussões, troca de empurrões com adversários. Só uma delas foi por entrada violenta, contra o Peñarol, na Libertadores de 2019.
Mas o que incomoda é por que o Flamengo aceita Gabigol ser assim?
Ser suspenso, perder jogos importantes?
Fora isso, seu estafe não agir, já que ele completou 25 anos recentemente. Ou seja, já não é mais nenhum menino.
E esse comportamento irritadiço o prejudica, o afasta de convocações da seleção brasileira.
Além de sepultar seu sonho de voltar a um gigante europeu.
O problema está no próprio Gabriel.
Desde que ele foi descoberto pelo bicampeão mundial Zito. Ele viu muito potencial no menino de oito anos. Desde que Gabriel chegou ao Santos, se firmou com grande artilheiro. A ponto de suas convocações para as seleções brasileiras de base se tornaram mais que rotineiras, obrigatórias.
Só que ninguém conseguia controlar o gênio de Gabriel.
Ele não recuava diante de provocações. Pelo contrário, por uma questão de gênio, sempre as aceitou, brigava, era expulso. Não admitia injustiças e também enfrentava árbitros.
Assim também como questiona substituições, quando acredita que não deve sair de um jogo. Ele já expôs treinadores publicamente.
O grande “problema” sempre foi seu talento.
O Santos se tornou especialista em jogadores tão promissores quanto intocáveis. O tratamento sempre foi diferenciado para Robinho, Neymar, Ganso e, sim, Gabigol.
Eles sempre foram vistos como atletas que renderiam muitos milhões ao clube, fato que realmente se concretizou. Com vendas para Real Madrid, PSG, São Paulo e Inter de Milão.
Gabigol soube capitalizar o fato de o Flamengo ter a maior torcida do Brasil.
E o time fabuloso montado por Jorge Jesus.
Desde sua chegada, se tornou “intocável”.
A direção do clube carioca evita choques com o artilheiro.
Expulsões, vexames, como ter sido flagrado em uma casa de jogos clandestinos, lotada, em plena pandemia. Ou haver saído de um show, em plena folga, com reações idênticas à de uma pessoa alcoolizada.
Nada é levado em consideração.
Tudo amenizado, perdoado.
Como o fato público, divulgado hoje, que ele é o atleta mais suspenso no Brasil, nos últimos quatro anos.
A situação tem tudo para seguir a mesma.
Não vai mudar.
O círculo de proteção ao ídolo no futebol brasileiro é fortíssimo.
Ainda mais sendo o maior ídolo da maior torcida do país.
O que importa são outros números.
200 jogos.
128 gols
39 assistências.
Nove títulos.