A dois meses do fim da venda dos bilhetes Viagem dentro dos ônibus e próximo da retirada de cobradores no transporte coletivo de Campinas, as empresas conseguiram reduzir nos últimos três meses de 2014 em até 70% o número de assalto a ônibus, em comparação ao primeiro trimestre do mesmo ano. Porém, uma nova situação tem colocado motoristas em maus lençóis, e muitos se vêem obrigados a permitir que passageiros utilizem o sistema de graça.
Isso porque o número de cartões vendidos no veículo é menor que a demanda do dia, relatam motoristas, e, em outros casos, o profissional não conta com troco para notas altas, como de R$ 50,00 ou até mesmo R$ 100,00.
Limite
Dia 31 de março será a data limite estipulada pela Prefeitura para que a venda do Bilhete 1 Viagem seja feita no interior dos ônibus. Essa data já foi prorrogada duas vezes nos últimos meses, e a intenção é acabar com a circulação de dinheiro no transporte público. O valor do cartão 1 Viagem custa R$ 5,50, sendo R$ 3,50 da passagem e R$ 2,00 do cartão (o casco), que é reembolsado nos postos autorizados da Transurc (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas).
Já o bilhete que dá direito a duas viagens custa R$ 9,00 (R$ 7,00 de tarifa + R$ 2,00 do cartão). “Ainda é muito grande a procura pelo bilhete 1 Viagem. A gente recebe uma cota de 15 por dia na garagem, mas em cinco voltas que eu faço esse número não dá, esgota. Outro problema é que muitos já sabem que o dinheiro não está circulando dentro do carro e apresentam notas altas, como R$ 100,00, e dou ‘carona’ mesmo assim, por que não temos troco”, relatou o motorista Wanderlei Batista de Paula, de 36 anos.
Anda de graça
A cobradora Sueli Oliveira, de 33 anos, há quatro anos na função, ratifica o que o motorista denuncia. “É grande a quantidade de gente que vem com notas altas. Não temos troco e todos os cobradores tiram muitas vezes do próprio bolso. Tem ocasião que o passageiro entra pela porta do meio e anda de graça. Não temos outra alternativa” , revelou.
No final da tarde desta terça-feira (3), a reportagem presenciou situação em que o passageiro viajou gratuitamente, pois o motorista da linha 1.90 não tinha troco para uma nota de R$ 50. O motorista, segundo relatou o passageiro que não quis se identificar, o deixou viajar na parte da frente, ou seja, antes da catraca e ele não comprou o bilhete 1 Viagem. Ele relatou ter sido transportado cerca de seis pontos até descer, na Avenida João Jorge. O veículo não tinha cobrador.
Remanejamento
Em dezembro do ano passado, de acordo com a Transurc, o sistema de transporte tinha 627 profissionais que auxiliavam os motoristas. Até o final de março esses cobradores serão remanejados para demais funções nas empresas concessionárias ou acertarão suas contas. Entretanto, dos 611 cobradores inscritos nos cursos de requalificação do PAP (Programa de Aperfeiçoamento Profissional), apenas 132 se formaram em cinco cursos e 149 iniciaram a última etapa do programa na segunda-feira (2).
O quadro de cobradores de Campinas era 1.278 funcionários. “O cobrador vai fazer muita falta, pois auxilia muito o motorista” , acredita a auxiliar de limpeza Francislaine Maria do Nascimento, de 33 anos. Para o funcionário público Phillip Cardoso, de 27, a cobrança do bilhete 1 Viagem é abusiva, e pouca gente retorna para pegar o valor do caso. “Mas em Sorocaba esse sistema sem cobrador deu muito certo e lá o sistema funciona” , apontou.
Como fica
“A atual situação dos cobradores é o seguinte: alguns permanecem nos ônibus, alguns em cursos, outros pediram para sair e temos aqueles que foram reaproveitados em outras funções nas empresas concessionárias e cerca de 80 em linhas intermunicipais”, explicou Paulo Barddal, diretor de Comunicação e Marketing da Transurc. Sobre alguns passageiros “forçaram” uma situação apresentando notas altas para andarem de graça, o diretor apenas disse que tal atitude vai da índole de cada pessoa.
Até o momento 98% dos usuários já adquiriram o Bilhete Único Comum, segundo a associação. “Ainda 2% dos usuários utilizam os demais bilhetes viagens. Sabemos que tem uma parcela de pessoas de fora que usa esses bilhetes, mas mesmo assim, o número de turistas que frequentam Campinas está abaixo de 2%” , avaliou Barddal.
Violência
As concessionárias do transporte coletivo urbano de Campinas registraram apenas seis roubos no interior dos seus ônibus em dezembro. É a mesma quantidade de roubo registrada em outubro, considerada a taxa mais baixa de casos em 2014. Já em novembro foram oito roubos.
A redução significativa na quantidade de assaltos, de acordo com a Transurc, está relacionada ao novo sistema de pagamento de viagens que, desde 1º de outubro, é feito apenas com a utilização de cartões eletrônicos. “Somando os três últimos meses do ano passado tivemos o mesmo número de casos registrados em setembro, por exemplo” , informou o diretor de comunicação Paulo Barddal.