O embate entre Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) e a dupla Flamengo e Fluminense teve mais um capítulo. A entidade divulgou um comunicado oficial em que desiste de ampliar a meia entrada para todos e deixa a critério dos quatro grandes clubes, incluindo Vasco e Botafogo, a definição para o preço dos bilhetes nos clássicos.
Conforme sinalizou na última quinta-feira o secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Espíndola, em evento olímpico, o governo teve de intervir no racha entre clubes da Ferj, que afetava diretamente um dos seus parceiros nas obras para a Rio 2016, a concessionária do Maracanã. Na ocasião, ele afirmou que poderia chamar a entidade, os clubes e a empresa para conversar e tentar chegar a um consenso. Na sexta, consultada pelo GloboEsporte.com, a assessoria da Casa Civil se pronunciou no sentido de respeitar contratos. O resultado foi publicado na noite de terça-feira, no site oficial da Ferj.
A nota garante que os ingressos promocionais para Flamengo x Barra Mansa, no Maracanã, serão limitados a mil unidades. Diz também que todos os jogos terão meia-entrada e inteira, abolindo a meia-entrada universal que havia sido decidida pelo arbitral. Esta medida pode resolver a questão do impacto sobre os programas de sócio-torcedor de Flamengo e Fluminense, um dos principais entraves para o entendimento. Outro problema, o preço dos clássicos, também foi abordado, mas sem um definição efetiva. Por ora, estão mantidos os valores, mas eles podem ser revistos se houver consenso entre os quatro grandes.
A crise entre os clubes do Campeonato Carioca teve dois momentos marcantes. Primeiro, airônica nota tricolor publicada durante o arbitral da última terça-feira, provocando revolta nos aliados de Rubens Lopes, presidente da Ferj. Depois, na sexta-feira, a crise pareceu atingir um ponto irreversível, com o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, deixando o arbitral antes do fim e alegando ter sido pessoalmente ofendido por Lopes. Marcelo Penha, representante tricolor na reunião, também saiu antes do final da reunião e, de acordo com Bandeira, foi ainda mais ofendido. Após o término do confuso arbitral na Ferj, a Casa Civil respondeu: “O Governo do Estado acompanha a questão e acredita que haverá um entendimento entre as partes envolvidas, respeitando os contratos celebrados”.
Já no sábado, Michel Asseff Filho recebia contatos da cúpula da Ferj acenando com uma nova conversa. Antes mesmo do arbitral de sexta sair de controle, o alto escalão da entidade já sinalizava a possibilidade de acordo com os rubro-negros. Mas novamente a publicação de uma nota oficial incendiou o ambiente. Desta vez, o texto foi ao ar no site do Flamengo, poucas horas antes do início do arbitral. A discussão saiu de controle, de acordo com os relatos dos presentes, quando Lopes começou a ler a nota, e Bandeira passou a confirmar tudo o que estava escrito.
Depois do arbitral de sexta-feira, Lopes foi o único envolvido a não comentar a confusão. Eurico Miranda, presidente do Vasco, convocou os membros do arbitral para uma entrevista coletiva, na qual novamente defendeu que o arbitral é soberano para decidir os preços do campeonato. No sábado, como relata a nota da Ferj, houve um encontro entre representantes da entidade e do Flamengo. E o acordo começou a ser costurado. A nota confirma que o governo entrou na conversa e que a concessionária também foi ouvida. Mas, em nenhum momento, a nota cita o Fluminense, presidido por Peter Siemsen, notório desafeto de Lopes e que não compareceu aos arbitrais.
O racha na Ferj teve forte reflexo na Gávea. Considerado um dos principais nomes da gestão atual do Flamengo, Luís Eduardo Baptista, o Bap, anunciou seu desligamento do clube. O motivo seria não concordar com o acerto para que o jogo contra o Barra Mansa, nesta quarta, acontecesse no Maracanã, especialmente após as ofensas a Bandeira de Mello. A sua saída foi anunciada antes da publicação da nota oficial da Ferj. Em entrevista ao Arena Sportv nesta terça-feira, o presidente rubro-negro falou somente em “divergências”, mas não entrou em detalhes sobre o desligamento do vice de marketing:
– Acho que divergências acontecem nas empresas, nas famílias e o Flamengo não é uma exceção. Acho que a gente precisa neste momento é enaltecer o trabalho que ele fez durante dois anos no marketing do Flamengo, que evoluiu 20 anos em dois. Éramos um clube desacreditado na interlocução com patrocinadores, e hoje o Flamengo tem a camisa mais valorizada do Brasil. Criamos um programa de sócios que é a terceira maior fonte de receita do clube. Para esse processo de recuperação de credibilidade contribuiu e muito o trabalho do marketing. A instituição só tem a agradecer tudo que foi feito nesses dois anos – disse Bandeira de Mello.