As tropas governamentais aproximam-se a sul, enquanto os seus aliados curdos ganham caminho na frente oriental. A operação militar para a tomada de Mossul começou na segunda-feira e levanta grandes preocupações, já que as autoridades acreditam que 1,5 milhões de pessoas estão ainda nesta cidade que é o principal bastião do autoproclamado Estado Islâmico (EI) na região.
Cinco mil combatentes do grupo extremista resistem ainda nesta que é a segunda maior cidade do Iraque, tomada há dois anos pelo EI.
Segundo a britânica BBC, nos últimos dois dias, a coligação apoiada pelos Estados Unidos já terá tomado dez aldeias próximas.
Questionado pelos jornalistas em Washington sobre a possibilidade de os radicais islâmicos estarem a usar civis como escudos humanos na defesa de Mossul, o porta-voz do Pentágono, o capitão Jeff Davis, foi peremptório: “Claro.” Davis garantiu que, no último dia, não foram vistas quaisquer pessoas a fugir da cidade. “Estão a ser ali mantidas contra a sua vontade.”
Estas declarações do porta-voz do Pentágono são confirmadas pelos residentes de Mossul que a agência de notícias Reuters contactou por telefone. Os habitantes garantem que os militantes do EI estão a proibir as pessoas de fugir da cidade e, nalguns casos, a concentrarem-nas em edifícios que usaram até há bem pouco tempo e que, muito provavelmente, estarão entre os alvos prioritários dos bombardeamentos aéreos da coligação internacional.
Temendo um agravamento dos confrontos, 100 famílias terão deixado já os subúrbios de Mossul, por onde entrarão as tropas iraquianas, procurando refúgio no centro da cidade, de acordo com relatos de residentes.
“É muito claro que o Daesh começou a usar civis como escudos humanos ao permitir que famílias inteiras se instalem em edifícios que poderão ser atingidos em ataques aéreos”, disse à Reuters Abu Mahir, que vive perto da universidade e que, como outros habitantes contactados, se recusou a dar o seu nome completo.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM), braço especializado das Nações Unidas, também está certa de que os civis serão transformados em escudos humanos, mas alerta ainda para a eventualidade de o EI vir a usar armas químicas, como já aconteceu no passado contra forças do Curdistão iraquiano.
Barack Obama veio já garantir que tudo está preparado para um êxodo em massa de civis, caso o actual cenário se inverta. Há “planos e infra-estruturas” para uma potencial crise humanitária, disse o Presidente americano, apostado em ganhar o máximo de território possível ao EI até deixar a Casa Branca, em Janeiro. As Nações Unidas têm equipas no terreno a trabalhar na criação de campos de refugiados nos arredores de Mossul. Campos que, segundo Lise Grande, a coordenadora da acção humanitária da organização no Iraque, prevêem acolher até 200 mil pessoas em busca de abrigo e protecção nos primeiros dias e semanas da operação militar.
Aos jornalistas, o porta-voz do Pentágono disse que a luta por Mossul vai ser “feia” mas que se têm feito progressos. “Não tenham grandes esperanças – vai demorar”, reconheceu Davis, aqui citado pela agência de notícias britânica.
O Estado Islâmico parece estar preparado para uma forte e duradoura resistência. Escreve a Reuters que há testemunhos de que o próprio líder do grupo extremista, Abu Bakr al-Baghdadi, e o especialista em explosivos Fawzi Ali Nouimeh estão entre os milhares de combatentes apostados em repelir a coligação, que tem 34 mil homens no terreno e está a 20-50 km da cidade.
No apoio a esta força encabeçada pelo exército iraquiano estão mais de cinco mil soldados americanos e militares de França, do Reino Unido, do Canadá e de outros países ocidentais.
Segundo a Reuters, Paris disponibilizou-se já para acolher uma reunião com representantes iraquianos a 20 de Outubro, quinta-feira, para delinear um plano de estabilização de Mossul e da região depois da derrota do Estado Islâmico.
No cenário pós-resgate de Mossul, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault, alertou também para a necessidade de pensar seriamente na tomada de Raqqa, já que é provável que muitos dos extremistas que hoje combatem no Norte do Iraque retirem para o seu bastião sírio.