Parecia uma ato espontâneo, sem planejamento prévio. No entanto, a invasão de um torcedor ao campo da Arena Fonte Nova, em Salvador, durante a partida entre Bélgica e Estados Unidos, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, foi pensada em cada detalhe. O autor do plano foi o italiano Mario Ferri, de 27 anos, que é conhecido como Falco (Falcão) e já havia invadido o gramado de um estádio no Mundial de 2010, na África do Sul.
Ferri começou a traçar os primeiras linhas do projeto de voltar a invadir o campo de um estádio de Copa do Mundo ainda no início deste ano. Em março, o torcedor italiano anunciou em dois perfis de uma rede social que pensava em visitar o Brasil para assistir ao Mundial. O desejo vinha acompanhado de um aviso:
– Estou considerando seriamente o fato de ir para a Copa do Mundo no Brasil … Senhores, talvez o Falcão volte a voar – escreveu o invasor em março deste ano.
Com a passagem para o Brasil comprada, o italiano começou a pensar como poderia invadir o gramado de um estádio brasileiro. De acordo com um agente judicial que teve contato com Ferri e preferiu não se identificar, o italiano recentemente assistiu a uma partida no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Contudo, se assustou com a quantidade de seguranças presentes no local e decidiu adiar os planos. Teria uma nova chance de invadir o campo na Arena Fonte Nova, em Salvador, com tudo engatilhado para colocar o plano em ação.
Primeiro, comprou ingresso para deficientes físicos. Sabia que os lugares destinados aos cadeirantes ficavam mais perto do campo. Depois, foi só esperar a oportunidade. E ela veio ainda no início do jogo entre Bélgica e Estados Unidos. Com o joelho direito enfaixado, Ferri se levantou da cadeira de rodas, atravessou a proteção que separa as arquibancadas do gramado e, aos 16 minutos do primeiro tempo do jogo, correu pelo campo da Fonte Nova sem ser incomodado pelos seguranças.
Durante a corrida, Ferri cumprimentou o camisa 10 da Bélgica, Hazard, driblou o belga De Bruyne, que pedia para que ele saísse de campo, mostrou a camisa com a inscrição ‘Salve as crianças da favela. Ciro vive’ e permaneceu no campo até que foi retirado por um segurança e levado para o posto policial montado no estádio. No fim, o plano não poderia ter outro desfecho. O torcedor italiano foi detido e encaminhado para o Complexo Policial dos Barris, na capital baiana, onde, segundo policiais, ficará à espera de uma determinação judicial. De acordo com funcionários do judiciário baiano, o italiano pode até responder por estelionato por fingir ser deficiente físico.
HISTÓRICO DE INVASÕES:
Ferri é bastante conhecido na Itália, onde iniciou a trajetória como um ‘especialista’ na invasão aos gramados dos estádios de futebol. Em novembro de 2009, ele interrompeu um amistoso entre Itália e Holanda com uma faixa pedindo que o técnico Marcelo Lippi convocasse o atacante Antonio Cassano para a seleção nacional que disputaria a Copa do Mundo. Ferri voltou a repetir o pedido ao invadir o campo no duelo entre Sampdoria e Napoli, em maio de 2010, confronto válido pelo Campeonato Italiano.
Lippi não convocou Cassano, a Itália foi eliminada na primeira fase da Copa do Mundo de 2010 e Ferri se sentiu na obrigação de mostrar ao técnico italiano que tinha razão. Na semifinal do mundial da África do Sul, ele invadiu o gramado na partida entre Espanha e Alemanha com uma faixa dizendo “Lippi, eu te avisei”. A estratégia utilizada foi a mesma da que o italiano colocou em prática na Arena Fonte Nova. Entrou de cadeira de rodas, aproveitou a proximidade do campo e invadiu o gramado com direito a uma vuvuzela em uma das mãos.
O histórico de Ferri não acaba por aí. O italiano invadiu o campo em mais três partidas, todas em competições internacionais. Ainda em 2010, voltou a entrar no gramado durante um jogo entre Milan e Real Madrid, pela Liga dos Campeões. No fim do mesmo ano, conseguiu invadir o palco da partida entre Internacional e Mazembe, no Mundial Interclubes.