A partir de 1º de janeiro de 2024, seis nações farão parte do Brics, que hoje é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Os novos integrantes são Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã — anunciados após a costura de acordos em meio a interesses geopolíticos conflitantes dentro do clube. De acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as nações representam 36% do PIB e 46% da população mundial quando somadas.
As entradas no grupo não são aleatórias. Antes do encontro em Johannesburgo, 23 países, de Honduras à Indonésia, buscavam uma vaga no bloco, mas garantiram espaço apenas aqueles que, inicialmente, atendiam a interesses geopolíticos no bloco.
A entrada da Argentina envolve, de um lado, o interesse brasileiro de fortalecer o país vizinho, especialmente em uma situação de crise. Os chineses também tem interesse econômicos e investimentos feitos na Argentina, que já integra a rota da seda de investimentos chineses. Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes ampliam a posição dos países no Oriente Médio e constrói um eixo mais pro China do que Estados Unidos na região — analisou a professora de Relações Internacionais Denilde Holzacker, da ESPM-SP.
Ainda de acordo com a professora, a entrada do Irã atende a um interesse russo, dentro do conceito chinês mais amplo de reforçar sua posição no Oriente Médio, enquanto a posição da Etiópia (bem como do Egito), aumentam a presença africana, sob a liderança da África do Sul.
— Com seis novos membros, o Brics consolida o quadrilátero da Eurásia: fincam o pé no Oriente Médio com grandes produtores de energia e ampliam a presença da África e da América do Sul. O Brics11 é representativo da multipolarização efetiva do mundo, grande interesse nacional do Brasil — disse Ronaldo Carmona, professor de Geopolítica da Escola Superior de Guerra.
O Irã, que não tem relações diplomáticas com Washington, “é um acréscimo controverso e, sem dúvida, ligado a um pedido da Rússia”, que depende do Mar Negro para o comércio, declarou à AFP Gustavo de Carvalho, pesquisador de Relações Internacionais radicado na África do Sul e que estava credenciado para acompanhar a cúpula.
Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos “têm um peso econômico enorme, e o petróleo protege seus interesses”, afirmou Chris Landsberg, especialista em Política Externa da Universidade de Johannesburgo.