Caso foi revelado pelo ‘Estadão’ na série ‘(In)Segurança Pública: Conexões políticas’ e mostra ligação investigada entre o contador do filho de Lula e o PCC; a defesa de Lulinha diz que as investigações sobre Muniz nunca o atingiram
Investigações do Grupo Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) reveladas nesta terça-feira, 9, apontam que João Muniz Leite, de 60 anos, contador que já prestou serviços ao filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, ganhou junto com a mulher Aleksandra Silveira Andriani 640 vezes nas Lotofácil, Mega Sena e Quina. O contador foi um dos alvos da Operação Fim de Linha, deflagrada na manhã desta terça-feira, 9, pelo Grupo Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital expediu mandado de busca e apreensão em busca de provas que corroborem os indícios de que ele seria um dos personagens centrais na montagem do esquema de lavagem de dinheiro da facção pela empresa de ônibus UPBus.
No depoimento à polícia em São Paulo, o contador também admitiu que teve entre seus clientes um dos principais traficantes de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC) durante cinco anos: Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta ou Magrelo.
Muniz afirma, no entanto, que o conhecia apenas pelo nome de Eduardo Camargo de Oliveira. Segundo a polícia, essa era uma identidade falsa usada por Cara Preta para comprar empresas e lavar parte do dinheiro do narcotráfico.
Em junho de 2022, a 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da Justiça Estadual de São Paulo determinou o bloqueio de R$ 45 milhões em imóveis e ônibus de integrantes do PCC e do contador. Segundo o Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), em diversas oportunidades os valores das apostas feitas por Muniz superaram os dos prêmios. O objetivo seria esquentar o dinheiro ilegal.
Além de prestar serviços de contabilidade para Lula e seu filho, Muniz também era homem de confiança do advogado Roberto Teixeira, o compadre do presidente.
Muniz chegou a ser ouvido como testemunha durante a Operação Lava Jato no processo do caso do triplex do Guarujá – arquivado pela Justiça em 2022 –, pelo então juiz Sérgio Moro. Na ocasião, ele afirmou que fez a declaração de Lula entre os anos de 2011 e 2015, no escritório de Roberto Teixeira, a quem prestou serviços por 14 anos, como contador de suas empresas.