Ativos ligados à Argentina dispararam nesta segunda-feira (14). No país, o índice S&P Merval, referência da bolsa argentina, encerrou a sessão com salto de 4,7%, aos 2.354.419 pontos. Em Wall Street, as ADRs também tiveram um dia de euforia, com os recibos do BBVA Argentina subindo mais de 14%.
Porém, na contramão, o dólar subiu mais de 10% no pregão. O clima, ainda assim, é de ânimo no mercado argentino.
Isso porque o governo do país anunciou uma flexibilização no mercado de câmbio, cuja euforia gerada também explica a perda de valor do peso na segunda.
O que mudou no câmbio argentino?
A depreciação do peso na Argentina levou o dólar a ser cobiçado e restrito no país. Uma série de cotações paralelas à oficial surgiram para facilitar os negócios em determinados setores da economia.
A fim de diminuir a distância e, consequentemente, a volatilidade entre os câmbios oficial e paralelo — conhecido como dólar blue — do país, uma das primeiras medidas do presidente argentino Javier Milei e de seu ministro da Economia, Luis Caputo, foi depreciar fortemente o peso.
Dali em diante, Milei se valeu do cepo cambial, restrições ao mercado de câmbio que são velhas conhecidas do cidadão argentino.
De um lado, vinha sendo trabalhado o crawling peg, um regime de flutuação do câmbio pelo qual o banco central do país realiza intervenções ponderadas no câmbio para depreciar ou apreciar gradualmente a moeda nacional. Na Argentina, o banco central vinha atuando com uma depreciação mensal de 1% do peso.
Do outro, a restrição do acesso ao mercado de câmbio. No país, a compra de dólares era limitada a US$ 200 mensais para pessoas físicas, além de outras limitações quanto ao repasse de lucros e dividendos e ao comércio exterior.
Na sexta-feira (11), Caputo anunciou o fim das medidas de controle ao mercado cambial e a implementação de um regime de câmbio flutuante limitado a uma faixa de cotação do dólar.
Com o fim das restrições, pessoas físicas poderão acessar livremente o mercado de câmbio argentino, sem o limite de US$ 200 e outras restrições administrativas. Foi anunciado, porém, que um imposto de 30% sobre compras com cartão e pagamentos relacionados ao turismo continua em vigor.
Também foram removidas todas as restrições de acesso à moeda estrangeira para pagamentos de lucros e dividendos relatados nas demonstrações financeiras.
Para dividendos herdados e pagamentos de dívidas intercompanhias (antes de 1º de janeiro de 2025), um título denominado em dólares emitido pelo banco central da Argentina poderá ser subscrito em pesos.
O governo argentino também vai acabar com o dólar blend, um dos mecanismos de cotação diferenciada voltado para exportadores venderem produtos a preços mais competitivos.
Para o comércio exterior, também foi anunciado o fim do prazo de 30 dias para pagamento de importações de bens e serviços finais e o relaxamento das restrições à importação de bens de capital.
Ademais, será implementado no país um regime de câmbio flutuante — sem interferências — enquanto a taxa de câmbio estiver dentro da faixa de US$ 1.000 a US$ 1.400. “Onde o banco central vai atuar? Precisamente nas faixas”, disse Caputo.
Por que as mudanças no câmbio argentino animaram o mercado?
Ao anunciar o fim do controle cambial, o governo argentino disse que iniciava a terceira fase de seu plano de recuperação econômica. Desde que chegou ao poder, o presidente Javier Milei tem colocado em prática uma política de austeridade fiscal para controlar as contas públicas e a inflação do país.
Apesar do ajuste “muito radical” ter deteriorado, por exemplo, os salários de servidores públicos e as condições de aposentadoria no país, Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP), refoçou ao WW que a aprovação do presidente segue forte
“Tem algo importante que tem acontecido nesses 16 meses: um programa de reforma profunda da economia argentina, que vinha de uma decadência profunda de décadas”, afirmou Viola.
Agora, o foco seria reestruturar a política monetária e o banco central do país. Segundo Roberto Luis Troster, sócio da Troster & Associados e ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), há estimativas de que a restrição ao câmbio tenha custado bilhões de dólares ao BC da Argentina.
“Tendo esses recursos adicionais, a tendência é que a musculatura do banco central aumente. […] Assim há mais elementos para vermos um ciclo virtuoso do que um ciclo vicioso