13 de novembro de 2016 pode ser lembrado daqui a anos como a data do último GP do Brasil no Autódromo de Interlagos, mas, mesmo que as difíceis negociações para a manutenção da corrida na capital paulista se resolvam, é possível afirmar que a disputa do último domingo entrou para a história tanto do local quanto da Fórmula 1. A incrível performance de Max Verstappen, as homenagens de um vibrante Lewis Hamilton a Ayrton Senna e o choro emocionado de Felipe Massa deram o tom durante as quase 10 horas de ação nas pistas.
A movimentação no entorno do autódromo, localizado na Zona Sul de São Paulo, já era grande por volta das 8h, quando diversos fãs realizavam churrascos em pequenos núcleos, tentando se proteger da chuva. Pelo fato de o GP reunir diversas pessoas que não são da cidade, foi possível ver diversas caravanas se organizando para adentrar às arquibancadas no melhor horário possível, uniformizadas principalmente com roupas da Ferrari e em alusão a Massa.
Bastidores em alta e continuidade incerta
Sempre reunindo diversas celebridades entre esportistas, modelos e artistas televisivos, a corrida ganhou esperança de continuidade quando o prefeito Fernando Haddad apareceu nos paddocks para explicar as negociações envolvendo a permanência do evento no calendário paulista, apontada como essencial pelo petista em meio a um município quase sempre voltado apenas ao turismo de negócios.
“Tem que se discutir com o governo federal e estadual se há o interesse ou não. Agora, é preciso lembrar que esse custo não é da cidade. Os custos da cidade têm a ver com os investimentos necessários para transformar Interlagos em um parque multiuso, que também se fosse para fazer esse investimento todo só pela F1 não valeria a pena. Foram mais de R$ 100 milhões aqui. O objetivo é até 2020 transformar em parque público multiuso e que contemplasse todo o tipo de evento no pavilhão”, disse o político.
A incerteza, no entanto, voltou a tomar conta quando João Doria (PSDB), por meio de uma nota da sua assessoria de imprensa, assegurou que não irá investir um centavo do dinheiro público para concretizar as reformas pedidas por Bernie Ecclestone e sua equipe. Sempre polêmico, o chefão já havia afirmado que não apostaria seu dinheiro na realização da prova de Interlagos em 2017, apesar do acerto contratual garantir realização até 2020.
Corrida caótica e elogios dos presentes
Quase que respondendo à dificuldade nos bastidores, o circuito entregou aos presentes todas as polêmicas possíveis, naquele que, de acordo com diversos jornalistas internacionais presentes, foi o melhor GP do Brasil desde o fatídico duelo entre Massa e Hamilton em 2008, quando o britânico garantiu o Mundial com um sofrido quinto lugar, passando Timo Glock, e frustrou os torcedores locais, “campeões” por cerca de 20 segundos após o triunfo de Massa na corrida.
Naquela ocasião, por sinal, Sebastian Vettel, com apenas 21 anos, selava uma boa temporada superando a McLaren do próprio Hamilton na última volta, dirigindo a apenas intermediária Toro Rosso. Dessa vez, Max Verstappen foi quem roubou a cena e, mesmo em meio à disputa do título entre Rosberg e Hamilton, protagonizou ultrapassagens emocionantes. Aos 19 anos, o holandês da Red Bull surge como próximo postulante ao título da categoria.
Somou-se a isso a participação do público, praticamente lotando os espaços disponíveis e reagindo com bastante intensidade aos acontecimentos. Após a segunda bandeira vermelha, por exemplo, vaias ecoaram pelo circuito reclamando da decisão. A cada mudança de traçado de Verstappen, porém, a vibração era imensa. “Quando eu desligava o rádio ouvia todos gritando, foi muito legal”, contou o novato.
Presente em todas as edições dos últimos anos, Hamilton não escondeu a felicidade pela vitória e a surpresa com as reviravoltas da corrida. “Bom, para mim foi o GP mais fácil que tive aqui, afinal estive na frente o tempo todo. Mas foi certamente um dos mais emocionantes que vivi. Para completar, ainda pude ganhar no local onde vi o Senna fazer história. É um dia inesquecível para mim também”, assegurou o inglês.
Adeus de Massa
Felipe Massa já havia comentado durante a semana que, apesar de ter o GP de Abu Dhabi ainda pela frente, não conseguia não tratar o GP do Brasil como uma despedida. Emocionado após bater o carro durante a prova e ser ovacionado pela torcida presente, ele caminhou pelo percurso antes de correr para o abraço da família nos boxes. Depois, passou pelo paddock recebendo o carinho de funcionários da Fórmula 1 e teve de ouvir pedidos para foto até dentro da ambulância que o encaminharia para o centro médico, uma rotina para quem se acidenta na categoria.
“Só tenho a agradecer todo o carinho da torcida por todo esse tempo. O resultado não foi o que eu gostaria, eu estava tentando, mas de qualquer forma foi um dia inesquecível para mim e para a minha carreira. Mostra que eu saio de cabeça erguida e que eu saio com o coração apertado, sem dúvida”, afirmou o brasileiro.
Semana decisiva
Passada a adrenalina pelo resultado, a próxima semana será decisiva para a continuidade de Interlagos no calendário de Fórmula 1. Haddad e Dória, que fazem periodicamente reuniões para facilitar a transição entre governos, vão discutir a necessidade de finalizar a obra de modernização do espaço, marcada para o ano que vem. Por ser visto como essencial para diminuir a defasagem entre São Paulo e os novos circuitos da Fórmula 1, a conclusão do projeto seria um grande trunfo na mão dos organizadores.
Além da participação do poder público na decisão, começará a ser definida a logística para buscar novos patrocinadores e amenizar o prejuízo, hoje estimado na casa dos R$ 100 milhões para o ano que vem. Com a crise econômica alardeada pelo país, Petrobras e Shell deixaram de injetar dinheiro na prova. “É um negócio que envolve recursos da Rede Globo, que tem os direitos da transmissão, e dos patrocinadores, que é o que fecha as contas”, concluiu Haddad.