A organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura comunicou que o surto de ebola tem impactado de forma negativa a economia dos países atingidos pela doença na África Ocidental, segundo a emissora de TV americana CNN.
O prejuízo total estimado para os próximos dois anos é de 32 bilhões de dólares caso a doença continue se espalhando de forma descontrolada, apontou um relatório divulgado pelo Banco Mundial. Os liberianos, por exemplo, têm sido obrigados a pagar 150% a mais pela mandioca, ingrediente básico na dieta da população em todo o país.
A Libéria, uma das economias mais vulneráveis da África é a nação que mais sofreu com o ebola até o momento. Mais de 3.800 mortes já foram registradas desde o início do surto. E o número de fatalidades pode não parar por aí.
De acordo com relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, os casos de ebola na Libéria e em Serra Leoa podem crescer para entre 550.000 e 1.4 milhão até janeiro de 2015, se intervenções adicionais não forem realizadas.
Serra Leoa e Guiné são outros países que enfrentam não apenas uma grave crise na saúde, mas também na economia. Essas três economias estavam crescendo antes da epidemia do ebola. Serra Leoa, em particular, tinha sido identificado como um país com potencial de crescimento significativo. Antes da eclosão, o FMI havia previsto para o país um crescimento de mais de 14% em 2014. A economia da Libéria vinha crescendo cerca de 10% desde 2005, enquanto a da Guiné havia sido elogiada pelo FMI pelas suas reformas econômicas e políticas.
Agora, o Banco Mundial estima que o surto custará a Serra Leoa 163 milhões de dólares, ou 3,3% do PIB deste ano. Caso a epidemia continue a se alastrar, o órgão estima que o país poderá perder até 8,9% do seu PIB em 2015. Estima-se que a doença custará a Libéria 234 milhões de dólares, ou 12% do PIB. Na Guiné, a estimativa é de 142 milhões dólares, ou 2,3% do PIB.
A inflação também tem castigado a região, impulsionada pela incerteza e pela fuga de capitais, enquanto as taxas de câmbio têm sido voláteis.
Grandes indústrias
A agricultura contribui com 57% do PIB de Serra Leoa, 39% da Libéria e 20% da Guiné, mas o medo da doença, a introdução do toque de recolher e as dificuldades de transporte de alimentos deverão ter um impacto significativo na produção de alimentos.
A África Ocidental também é rica em ferro e ouro, e as empresas de mineração ocidentais têm uma forte presença na região. Mas a Libéria, onde mais de 2 mil pessoas morreram em decorrência do vírus ebola, fechou os principais postos de fronteira e introduziu um toque de recolher temporário na tentativa de conter o surto.
O setor de mineração contribui com cerca de 14% da economia da Libéria, com empresas internacionais como a ArcelorMittal, Hummingbird, Chevron e Exxon & Total operando muitas das minas do país, contudo, a maioria delas impôs restrições de viagem aos funcionários e estão evacuando pessoal não essencial na região. Se isso continuar, “haverá um declínio considerável na produção”, disse o Banco Mundial.
O medo
Mas é o medo o fator mais prejudicial às economias desses países, afirmou Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial. Segundo ele, algo semelhante aconteceu durante os surtos de Sars e H1N1.
“O fator medo do surto de ebola reduziu a participação da mão-de-obra, fechou locais de trabalho, interrompeu o transporte e levou alguns governos a fechar portos marítimos e aeroportos”, disse Kim em uma coletiva de imprensa na semana passada.
Cerca de 800 pessoas morreram durante o surto de Sars entre 2002 e 2004, causando perdas econômicas avaliadas em 40 bilhões de dólares. Na época, a desaceleração foi causada principalmente pela fuga de investimentos estrangeiros.