A crise política nos Estados Unidos teve, nesta quarta-feira (17), novos desdobramentos. O Departamento de Justiça nomeou um ex-diretor da Polícia Federal para supervisionar as investigações sobre a ligação da campanha de Donald Trump com os russos.
O presidente americano evitou comentar diretamente a suspeita de que teria pedido o fim de uma investigação sobre o ex-conselheiro de segurança nacional.
Até um dos senadores mais respeitados do partido do presidente reconheceu: “Já vimos esse filme antes. A crise está tomando a proporção de um Watergate”. John McCain se referia ao escândalo que levou à renúncia do ex-presidente Richard Nixon em 1974.
Outro republicano chegou a dizer que haveria razões para pedir um impeachment se as acusações de que o presidente Donald Trump tentou acabar com a investigação sobre as ligações do ex-conselheiro de Segurança Nacional com os russos forem verdadeiras.
A mesma saída foi sugerida em plenário pelo deputado democrata Al Green: “Faço um apelo por um impeachment do presidente por obstrução de Justiça”.
A bomba política que estourou na terça-feira (16) revelou que o ex-diretor do FBI James Comey teria registrado em um memorando oficial uma conversa em que o presidente teria pedido que ele “deixasse para lá” as investigações sobre Michael Flynn, demitido um dia antes.
A Casa Branca disse que o presidente não tentou suspender a investigação, mas, para muitos parlamentares, a conversa indicaria tentativa de obstrução de Justiça – um crime que pode levar ao impeachment.
O presidente da Câmara, Paul Ryan, botou água na fervura. Ele acusou alguns políticos de tentarem prejudicar o presidente, mas afirmou: “É preciso esclarecer tudo, não importa o partido que esteja na Casa Branca”.
O presidente da Comissão da Câmara que monitora as atividades do governo pediu a liberação de todos os registros das conversas entre Donald Trump e o ex-diretor do FBI.
O comitê de inteligência do Senado convidou James Comey para prestar depoimento. No fim da tarde, o Departamento de Justiça nomeou Robert Muller como conselheiro especial para supervisionar a investigação sobre a ligação entre a campanha de Trump e os russos. Foi uma resposta ao pedido dos democratas para criar uma investigação independente sobre o assunto. Muller foi diretor do FBI durante o governo de George W. Bush.
A Casa Branca foi cautelosa ao falar da crise. O porta-voz da presidência se limitou a dizer que a descrição de James Comey sobre a conversa com Donald Trump não foi precisa. Mais cedo, em um discurso, o presidente disse que é vítima de injustiças.
Em uma cerimônia de formatura de cadetes da Guarda Costeira, Trump evitou falar diretamente das acusações. Mas afirmou que “nenhum outro político da história foi mais maltratado e mais injustiçado”.
As suspeitas sobre Donald Trump derrubaram as principais bolsas de valores do mundo. A bolsa de Nova York e a de São Paulo caíram quase 2%.