A distância entre o discurso e as ações foi a marca do presidente Putin na estratégia para a guerra. Desde o fim do ano passado, a Rússia vinha posicionando tropas na fronteira com a Ucrânia. No início deste ano, já eram cerca de 100 mil soldados.
Mesmo assim, no fim de janeiro, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, foi categórico ao dizer:
“Não vai haver guerra se depender da Rússia. Nós não queremos uma guerra. Mas não vamos deixar que nossos interesses sejam rudemente pisoteados e ignorados”.
Na época, Putin disse que as tropas estavam se posicionando apenas para exercícios militares. O monitoramento do serviço secreto dos Estados Unidos indicava que não era só isso. E, dez dias depois, o presidente Joe Biden deu o alerta:
“Eu não sei se ele sabe o que vai fazer. Eu sei que ele está em uma posição agora capaz de invadir.”
“Nós queremos guerra ou não? Claro que não. Por isso, mandamos nossas propostas para começar o processo de negociação.”
Enquanto Putin fechava o cerco, levando tropas também a Belarus, país ao norte da Ucrânia, o ministro russo negava o que já era evidente. “A especulação de que os exercícios militares da Rússia e Belarus começaram para atacar a Ucrânia pelo Norte, para capturar Kiev, todos esses cenários são uma paranoia completa”, disse Sergey Lavrov.
No mesmo dia, a Rússia anunciou que estava retirando parte das tropas da região. O presidente americano contestou e voltou a falar sobre a ameaça clara de invasão:
“Neste momento, a Rússia tem mais de 150 mil soldados cercando a Ucrânia. Uma invasão continua sendo claramente possível.”
Imagens de satélites reforçavam as declarações de Biden e mostravam militares em posições de ataque. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ironizou: “É impossível retirar as tropas em um dia. Elas não podem simplesmente sair voando. Leva tempo. Como sempre, acusações infundadas.”
No dia seguinte, o governo americano voltou a falar em guerra. Denunciou que a estratégia de Moscou seria criar um ataque falso como pretexto para invadir a Ucrânia, e Vladimir Putin sustentou seu discurso: “Esses exercícios militares são exclusivamente de natureza defensiva, e não uma ameaça para ninguém.”
Mas Joe Biden já não tinha dúvidas: “A esta altura, eu estou convencido de que Putin tomou a decisão.”