As candidatas Marina Silva (PSB), Dilma Rousseff (PT) e o candidato Aécio Neves (PSDB) formaram o trio que centralizou, ontem, as atenções e ataques no debate da TV Globo, tanto entre si e entre os nanicos.
Esse foi o último embate promovido na reta final do primeiro turno e a nova aparição pública que demonstrou a postura dos candidatos após os resultados das pesquisas Ibope e Datafolha que mostram a petista na dianteira e a socialista com o tucano na disputa pela segunda colocação.
Além dos três concorrentes, também compuseram o embate, mediado pelo apresentador do Jornal Nacional William Bonner, Luciana Genro (PSOL), Levy Fidélix (PRTB), Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV).
O primeiro bloco do debate começou com Luciana Genro tecendo críticas à Rede Globo e questionando a presidente Dilma sobre o escândalo da Petrobras, se seria fruto da aliança da petista com a direita.
Em resposta, a presidente alegou ter demitido o ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa. Já a candidata do PSOL disse que o tesoureiro do PT estava envolvido no escândalo e que a delação premiada de Costa havia sido aceita pela Justiça porque as informações prestadas por ele foram provadas.
Em seguida, Dilma disse que “há corruptos em todos os lugares” e que “todo mundo pode cometer corrupção”. Diante disso, ela defendeu o fortalecimento das instituições do país.
Questionado pelo Pastor Everaldo sobre o uso da máquina do governo nas eleições, o tucano Aécio Neves disse ser “vergonhoso” o que ocorre nas estatais. “O mais grave em relação à Petrobras é que a presidente acaba de repetir que demitiu o sr. Paulo Roberto da Petrobras e não é isso que diz a ata do Conselho”, disse o tucano.
Na réplica, o candidato do PSC disse que os Correios estão o processando por ter denunciado corrupção na empresa. “Estão tentando calar a boca de quem fala a verdade”, declarou. Aécio afirmou que o PT “perdeu há muito tempo a capacidade de apresentar um projeto transformador”.
Quando o tucano perguntou como Marina se portou diante do mensalão, a socialista bradou: “Vossa excelência também estava no partido que praticou o mensalão”, respondeu ela sobre o escândalo do PSDB de Minas. “Eu saí do PT exatamente para manter as minhas convicções. Eu não vi você fazer nenhuma crítica à emenda da reeleição e à compra de voto”.
Na réplica, o tucano disse que não há “nada mais velho na política do que nomear para cargos públicos aqueles que foram demitidos nas urnas”.
Marina rebateu dizendo que há pessoas honradas que prestam trabalho sério e que perderam nas urnas. “Está cheio delas no seu partido”, disse. “É isso que dá a visão do poder pelo poder”.
O candidato do PV à Presidência, Eduardo Jorge, começou sua fala pedindo que o candidato Levy Fidelix pedisse perdão sobre sua fala contra gays, feita no debate da Record, no último domingo.
“Você não tem moral nenhuma para me falar disso. O senhor propõe que o jovem use maconha, faz apologia ao crime, e ao aborto, que é crime”, rebateu o candidato do PRTB. “Pense duas vezes antes de me acusar, porque não fiz nenhuma apologia”.
Na réplica, o verde disse ao adversário que iriam se encontrar na Justiça “quando o MP abrir um processo e estaremos lá como testemunhas”.
Eduardo Jorge disse que Fidelix “envergonhou o Brasil”. Em resposta, ele disse que Eduardo Jorge faz apologia ao crime e às drogas. “O povo brasileiro quer que o jovem seja sadio”, declarou.
As mais bem posicionadas das pesquisas, Marina Silva e Dilma Rousseff, protagonizaram um dos discursos quentes logo no segundo bloco do debate. A socialista colocou em xeque a trajetória política de sua ex-colega de agremiação quando tratou do Banco Central.
Ela disse que a petista fez acusações contra a autonomia do BC, que havia defendido antes. “Qual a Dilma que está falando agora?”, questionou a mandatária do PSB. “A senhora está confundindo autonomia e independência”, rebateu Dilma.
“Independência é dar um quarto poder para os bancos”, dizendo que respeita a autonomia do órgão. “Quer dizer que uma pessoa que nunca foi vereadora não possa ser presidenta? Onde isso está escrito? Não na Constituição! Para ser presidenta tem que ter competência”, encerrou a presidente.
Quem tratou do tema corrupção foi Eduardo Jorge, que fez questão de escolher a presidente Dilma. O postulante do PV falou em “aparelhamento das estatais e ministérios” como forma de atacar a concorrente e relembrou a morte de Jandira e Elizângela, que tentaram abortar.
A petista disse que não mentiu ao falar sobre a demissão de Paulo Roberto Costa da Petrobras e leu trecho de depoimento dele na CPI, em que diz que fez carta de demissão. “Os fatos são esses, insistem em negá-los”, disse ela.
Na réplica, o verde afirmou que o trato da corrupção é uma “questão estrutural” e fez a ousada sugestão de corte de 50% dos cargos comissionados mantidos pelo governo federal. Em relação ao aborto, ele pediu que Dilma revogue a atual lei, que classificou de “machista”.
Porém, a candidata à reeleição disse que é preciso apoiar as jovens para que “não sejam levadas a esse momento em que se sentem desprotegidas”.
Como forma de se mostrar como uma força que pode ajudar a retirar o PT da Presidência da República, o tucano Aécio Neves, de alguma forma, priorizou seus ataques diretos à líder das últimas pesquisas. Ambos protagonizaram momento quente quando abordaram o uso da máquina pública.
De um lado a petista relembrando o caso das “privatizações” e do outro o cacique do PSDB apontando os escândalos de corrupção, com o foco no caso da Petrobras.
No terceiro bloco, Dilma chegou a tratar de habitação e ouviu críticas de Aécio. A petista falou das 3 milhões e 600 mil moradias entregues e contratadas e pergunta o que acha do programa de habitação. “Os bons projetos devem ser aprimorados”, respondeu ele.
“Quando o PT assumiu, o programa social era o Fome Zero, que sumiu e ninguém até hoje sabe onde foi parar. Aí vocês unificaram os programas do Fernando Henrique. Fizeram muito bem”, treplicou, tratando dos programas sociais.
Após o último embate na Record, onde Levy Fidélix deu uma declaração contrária ao movimento LGBT, motivado por Luciana Genro, no debate da TV Globo houve a revanche entre os dois. O peerretebista, olho no olho, afirmou que a candidata do PSOL não tinha palavra.
“A senhora mandou seu ex-marido me procurar para pedir que não fizesse pergunta por que queria questioná-la sobre economia. Mas você não fez o combinado. Você será uma presidente que não cumpre o acordado?”, questionou.
Na resposta, Genro afirmou que nunca havia rompido palavra com o adversário e afirmou que foi ele quem “apavorou, chocou e ofendeu milhares de pessoas”.
“Isso no passado já aconteceu, e resultou no holocausto e na escravidão. Esse teu discurso de ódio é o mesmo que os racistas fazem contra os negros, e os nazistas contra os judeus. Mas não pode fazer isso porque é crime, senão você faria. E você só falou o que falou porque não há lei que torne homofobia crime. E você deveria sair daquele debate algemado, direto para a cadeia. Os nossos deputados lutam para que a homofobia seja criminalizada”, disse.
“Em nenhum momento fiz apologia ou pedi para que as pessoas atacassem alguém. Eu tenho direito de expressar minha posição católica cristã. Não estimulei nada. Você que turbinou no Twitter o tempo todo para me incriminar”, replicou Fidélix. “Cristãos, evangélicos, espíritas, qualquer religião, ou mesmo ateus, não compartilham da sua visão de ódio”, concluiu Luciana na tréplica.