Depois de enfrentar a maior manifestação de protesto desde a redemocratização, cobrado nas ruas e pela oposição, o governo ensaiou respostas na segunda-feira (16), na figura da presidente Dilma Rousseff.
A última reunião do dia foi no Palácio da Alvorada com ministros do núcleo político, o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-presidente Lula. Nenhum deles conversou com a imprensa. De manhã, o primeiro recado do governo foi dado pelo ministro da Justiça.
“Os brasileiros precisam se sentir representados naqueles que formulam políticas. Os brasileiros precisam ter um sistema político que não seja porta de entrada para a corrupção. Os brasileiros precisam ter uma mudança que efetivamente seja pactuada, discutida, profundada para que situações perversas como essas que nós vimos hoje em relação à corrupção não se repitam”, declara José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça.
REAÇÃO NO CONGRESSO
No Congresso, parlamentares de oposição criticaram a atitude do governo diante dos protestos.
“Se ela quer continuar governando com credibilidade e respeito do povo do Brasil, ela tem começar respeitando os movimentos e dando respostas convincentes à insatisfação que passa pela corrupção e passa pelo mal governo”, diz o senador José Agripino (DEM-RN).
O líder da minoria lembrou que o Congresso também tem de atuar.
“Se o governo não oferecer resposta e se o Congresso não acompanhar, fazendo a leitura correta dessa mobilização popular, certamente esse movimento não saírá das ruas do país. O povo brasileiro está cansado, perdeu a paciência, não quer esperar a próxima eleição, deseja a mudança radical já. Se providências não forem adotadas com esse objetivo, certamente a população não sairá das ruas”, afirma o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder do PSDB no Senado.
RESPOSTA ÀS MANIFESTAÇÕES
Mas foi no Palácio do Planalto que a presidente Dilma Rousseff dedicou parte do dia para falar sobre as manifestações de domingo (15). Ela destacou o caráter pacífico e democrático dos protestos, reafirmou o compromisso com o combate à corrupção e defendeu o corte de gastos que vem sendo feito pelo governo.
“O governo vai lutar por isso. O governo acha que a situação não pode ser tratada por ninguém na base do ‘quanto pior melhor’. Nem na política nem na economia. Agora, sobretudo, há que ter a responsabilidade, e nós temos a responsabilidade de lutar pela questão do ajuste e das correções. Nós vamos fazer isso porque achamos que isso, sabe quando você faz com convicção e com paixão porque nós achamos que isso é importante para o país. Por que? Por que é importante? Eu vou falar, você pode ficar calma aí que eu vou falar…eu vou explicar porque. se a gente tivesse um descontrole como muita gente tem, como muita gente tem, na nossa folha de pagamento, não temos. Isso já ocorreu no passado. Nós não temos. Se a gente tivesse um desenfreio absoluto, nós não temos…nós vamos de fazer uma correção, uma redução. Agora, o país não quebra quando lá fora as coisas ficam mais voláteis, como estão agora, porque nós continuamos tendo uma quantidade expressiva de reservas”, afirma a presidente Dilma Rousseff.
NOVAS MEDIDAS DE ESTÍMULO
A presidente defendeu as medidas de estímulo que o governo tomou nos últimos anos, mas que agora foi obrigado a rever.
“Ninguém pode negar que nós fizemos de tudo para a economia reagir. Ninguém pode negar esse fato. Podem falar o seguinte: então era melhor deixar quebrar. Eu não acredito nisso. Então eu vou te dizer o seguinte: em qualquer atividade humana se comete erros. Longe de mim ou longe do meu governo achar que não cometeu erro nenhum. Agora, o que eu não posso concordar é em aceitar ser responsabilizada por algo que seria pior se nós tivéssemos deixado”, diz Dilma.
ABRIR O DIÁLOGO
Perguntada se o governo faz autocrítica diante da insatisfação da população, a presidente falou em diálogo.
“Tem uma certa volúpia da imprensa em querer uma situação confessional. Não tem na minha postura nenhuma situação confessional. Atitude de humildade é porque é o seguinte, você só pode abrir diálogo com quem quer abrir diálogo. Com que não quer abrir diálogo você não tem como abrir diálogo. Agora, eu procurarei ter diálogo com quem…seja quem for. É uma atitude, de abertura. Agora, eu não tô aqui fazendo nenhuma confissão, aqui não é um palco de confissões, vocês hão de concordar comigo. É uma entrevista, né? Não tem aqui nenhum confessionário. Se alguém achar que eu fui, que eu não fui humilde em algum diálogo, me diz qual é e aí eu tomo providência para mudar. Agora, uma conversa geral: ‘você não foi humilde’. Me diz onde, aí tudo bem. Quem sabe eu não fui mesmo?”, declara a presidente Dilma Rousseff.